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  • Mosqueiro

Estava pesquisando pela net e achei esse texto abaixo, gostei e passo a dividir.

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Guaru no Fly

Por Gustavo De Marchi

Anos atrás, me ative em pescarias de pesquisa, para descobrir que espécies habitavam determinados ambientes que eu conhecia bem desde guri: os banhados do litoral. Porém, quando guri não conseguia pescar a maioria dos peixinhos que via, pois não tinha os anzóis certos, hoje muito mais acessíveis. Imbuído deste espírito lagoísta saí para pescar, de fly, num fim de tarde sem vento, num dia de verão.

Caminhando até o fim de uma rua encontrei algumas poças que se interligavam formando exatamente o que eu procurava: um banhado sazonal. Parei para olhar. E estavam cheias de peixinhos. Olhei o estojo de moscas. Uma ninfa, pequena. Estava com equipamento #1. Beleza. Troquei o leader atei a mosca e comecei a castear. A mosca pousou linda na superfície, sem quebrar a tensão superficial, dei uma puxadinha: a água começou a ferver! E riscos que vinham em direção à mosca em alta velocidade surgiram de vários pontos... lindo.

Mas não ferrava nenhum peixe, o anzol era meio graúdo, teria uns milímetros a mais de abertura no gap. Mas continuei com a brincadeira. Nada, lá pelas tantas consegui ferrar um peixinho. Grandote, uns 7 cm. Um guaru, ou barrigudinho, peixinho larvófago da família POECILLIDAE, aliás, ótimo para controle biológico, pois se alimenta de larvas dos mosquitos. Portanto uma prevenção contra o dengue.

Uma gurizada remelenta apareceu e ficaram me observando com sincera desconfiança. Não disse nada, pois não queria confirmar a expectativa deles sobre meu grau de sanidade mental. O que pensariam eles de mim? Com uma linha colorida chicoteando o ar? Pescando em uma poça com água? O constrangimento derrotou o pesquisador. Fui para casa à francesa, se isto é possível em campo aberto.

Na sombra, abri a caixa-laboratório atrás dos menores anzóis. Mexi nas caixinhas e achei uma caixa com o famoso “515”, um anzol velho e bom (mais velho que bom, provavelmente da década de 1940): O. MUSTAD & SÖN: Mustad Crystal Bronzed Short shank No. 17: é isso tudo mesmo! Atei “alguma coisa” com fiapos de fio, lã e penas.

No dia seguinte, cedito, sem vento, 1022 mb de pressão peguei as tralha e me fui para os banhados com aquela anti-mosca. Lancei, caiu na água e foi ao fundo, como esperado. Estiquei a linha e tava lá o bichinho correndo como louco ao redor do leader: maravilha. Um atrás doutro, grandes e pequenos. Bom, uma loucura! Alta produtividade, do jeito que eu gosto. Contudo a pesca era curtinha e cautelosa para não "quebrar o queixo" dos guarus.

Voltei para casa para almoçar e sestear. À tardinha fui dar mais um tiro. Mas chegando no "pesqueiro" tinha aquela moçada da remela por lá. Tudo bem, não sou egoísta, mas reparei na "tralha" da turminha e percebi que iria sobrar peixe para mim.

Peguei um, outro, uma dúzia. Pegava e soltava. Minúsculos peixinhos. Lá pelos cinqüenta peixes fui falar com os propensos sapateiros. Eles usavam uma varinha de bambu muito curta, com uma bóia do tamanho duma laranja e um chumbo duns 150 g. Na ponta do conjunto um anzol. Um anzol não! Melhor, um gancho de açougue, com um pão de atravessado e uma linha que parecia uma corda de varal. Também fui guri e aquilo me doeu fundo no peito. Fui obrigado a dar uma orientação e uns anzóis. Desmontei a tralha dum guri, tirei o chumbo, a bóia, a linha e o gancho de açougue. Disse para guardar aquilo para os cações-mangonas e atei uma linha muito fininha com somente um anzol e mais nada. Uma micro migalha de pão serviu de isca e entreguei ao piá. Foi por na água, voltou com um guaru!!! Missão cumprida aquela gurizada vibrou. Assim de fui equipando o pessoal e só não montamos um clube de pesca ali mesmo porque se ouviram os gritos de “a janta está servida” pela rua. Moral da história: não dê o peixe, ensine a pescar.

Título: Guaru no Fly

Por Biólogo Gustavo De Marchi ( gustavo@d-zone.com.br) escrito em 12 de novembro de 2008 e publicado na edição 1284 do Jornal de Canela
http://www.jornaldecanela.com.br/edicao/1284/guiadepesca

fonte:http://www.e-zine.com.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=219&Itemid=42

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  • 5 anos depois...
  • 3 meses depois...
  • Patrono

Bá, desenterrou esse testo do Gustavo.

Ele costumava escrever uns relatos muito legais, inclusive alguns eram publicados no jornal de Canela ou Gramado. 

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  • 3 meses depois...
  • Mosqueiro

Que bacana @Beto, eu gostei demais desse relato e mais ainda da tua atitude com a gurizada, eles jamais te esquecerão. Parabéns pela pescaria divertida também, eu fico imaginando como é pescar guaru (micro taínhas), um forte abraço!

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