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Tímida investida


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  • Mosqueiro

Aqui em São João del Rei e cercanias há alguns lugares onde se pode arriscar uma pescaria ou outra, sempre em lagos, represas ou rios, sendo que os locais mais produtivos permitem uma boa exploração em pequenos períodos do ano.

De final de outubro a março a época das chuvas dá as caras, com seu pico máximo entre dezembro e final de fevereiro. Com isso os rios sujam muito, o que juntamente com a proibição da pesca por conta da piracema impede qualquer investida nas águas públicas. Eventualmente, em locais privados, podem surgir convites de pesca, mas com a correria de fim de ano e as coisas acontecendo na loja ficou impossível pensar em pescarias, nem mesmo em pesque e pagues.

As chuvas não vieram fortes, o verão acabou e na semana santa maquinei uma escapulida para dar uma treinada que fosse, pois tenho sido efetivamente um "desleixado pescatício"...

Enfim, juntei algumas poucas coisinhas, o essencial mesmo, passei a mão na câmera e peguei a trilha dos lagos aqui da região de Santa Cruz de Minas, cidade que fica literalmente espremida entre SJDR e Tiradentes e onde temos nossa loja. Aqui, cabe uma explicação: esses lagos ficam próximos das margens do Rio das Mortes, que por sua vez acompanha a linha da maria fumaça que interliga SJDR e Tiradentes. É um local bonito, com pouquíssimas casas - apesar da proximidade da cidade - e gado e cavalos criados nos pastos.

Bem próximo fica a pousada Lagos de Minas (antiga Lago d'Ouro), que possui em seu terreno um enorme lago, muito bonito, que com a época de cheia do rio junta-se aos pequenos lagos do entorno formando um banhado enorme, com poções onde é possível pegar, além dos residentes lambaris e traíras, piaus, mandis e tabaranas.

Mesmo sabendo que este ano as condições não eram as descritas acima, fui decidido a no mínimo treinar uns casts e fotografar algo para mostrar aos amigos. Para chegar até os lagos uma caminhada de dez minutos basta. Com a agilidade de um bicho-preguiça e o peso de um gorila me esgueiro por baixo da cerca de arame farpado e pronto, estou lá.

Logo ao chegar, fui recebido por este simpático grupo:

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Dizem que cara feia é fome. Não creio, já que capim não é um problema aqui. Pelo sim, pelo não, achei melhor começar a explorar outras bandas a uma distância segura deste que parecia o boss da área...

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Escolhi um cantinho sossegado, com o mínimo de espelho de água que precisava para começar uns rústicos arremessos. Uma movimentação aqui, outra ali, nada de especial, mas o que mais me detinha a atenção ainda era o caboclo com chifres que veio ver o que eu estava fazendo.

laguinho2.jpg

laguinho.jpg

Pra minha sorte, era dos mansos e não ficou mais que uns cinco minutos. Entediado, tomou o rumo de pastos mais verdes. Certamente uma boa opção para ambos.

Continuei ali, tentando me convencer de que eu dominava o conjunto #6, não o contrário. A paisagem motiva e acalma, convidando a fotografar mais que qualquer outra coisa.

panoramica.jpg

A vegetação típica esconde lambaris e traíras, estas últimas, velhacas mesmo.

vegetacao2.jpg

vegetacao.jpg

Mudei de lugar, já que a vacada havia mudado de lado também. Uma rápida caminhada e cheguei a outro lago, um pouco maior que o primeiro, com a mesma cara de traíras. Na verdade, ali saem bastante traíras, sempre com tamanho médio entre 500 e 800 g, uma vez ou outra sai uma com mais de quilo.

No bait as danadinhas das traíras atacam mesmo, mas sempre no cair da tarde. No lambari sai muita, com a técnica regional da "batida", quando são usadas varas de bambu longas e lambaris para varrer os locais mais promissores batendo levemente o lambari por cima das raízes e vegetação sub-aquática. Interessante ver a destreza de quem domina a técnica.

Mas eu estava ali para outra coisa: treinar. Continuei, às vezes me surpreendendo positivamente, outras vezes promovendo cenas bisonhas... Destreinado, com o punho um pouco cansado, ponho as armas ao chão.

guns.jpg

Consegui uma melhora na distância, se comparado ao último dia em que tentei pescar de fly. Creio que com mais um pouco de treino já posso pescar em público. Mas decido por deixar para outra oportunidade.

Com os últimos raios de sol dourando o horizonte, resta caminhar de volta à casa, lembrando os versos do poema "A máquina do mundo", de Drummond.

fimdetarde.jpg

Por fim, particularmente concluo que o fly fishing exige disciplina não porque seja mais técnica que esta ou aquela modalidade, mas por exigir que o pescador, por mais experiente que seja em outro estilo, calce as sandálias da humildade e assuma que nunca saberemos de tudo, nem quais peixes perdi naquele dia. E assim sigo aprendendo, passo após passo, tentativa após tentativa, um pouco mais desta apaixonante modalidade. Minha missão foi humildemente cumprida, mesmo sem peixe.

Editado por Fred Mancen
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  • Mosqueiro

Texto muito bem elaborado!!!!!!!!!

Esta certo amigão, sempre buscando a evolução!!!!!!!

Abração e no próximo espero que tenha suas linhas bem tensas!!!!!!!!!

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  • Mosqueiro

Texto muito bem elaborado!!!!!!!!!

Esta certo amigão, sempre buscando a evolução!!!!!!!

Abração e no próximo espero que tenha suas linhas bem tensas!!!!!!!!!

Obrigado, Bata! Deus o ouça...rs...

Tb gostei do texto, bacana!

E aquela represa Camargos, que fica por aí, tem algo?

Abs,

Azeredo, Camargos fica a uns 70~80km daqui, creio eu. Fui lá há uns 5 anos atrás a passeio e na parte que visitei não dá muito peixe por conta de movimentação de barcos e pessoas nadando. Dizem que nas áreas menos visitadas tem tucunarés. A confirmar...

Abs

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  • Administrador

Excelente Fred,

Belíssimas imagens e texto maravilhoso, só isso já me faz "viajar" pro local, dá até pra sentir o cheirinho do campo. Muito bom de ver e de ler (o peixe é um mero detalhe).

Grande Abraço ;)

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  • Mosqueiro

Amigo Fred todos bem, este local você não testou uma mosca com ante enrosco para traias, sabe porque é local de trairás, mas tenho certeza que você gostou, polo menos pescou o visual e isto é muito bom.

Abraço.

Editado por Marcelo R. S.
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  • Mosqueiro

Fred, seu relato mostra como a pesca com mosca é encantadora, mesmo sem peixe. BACANA!!!!

Aliás, eu sou suspeito, apaixonado por Minas Gerais, suas montanhas, suas águas, sua gente e culinária.

Abraços

Tio Luiz

PS: Eu só não curto (nem consigo pescar) com essa coisa de bois ou cavalos soltos no pasto. Fico grilado e não me concentro mesmo!

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  • Mosqueiro

Fala aí Fred,

Ainda que em uma estrada pedregosa de Minas a maquina do mundo não se tenha entreaberto para ti, você esteve aí descortinando os segredos do fly, que não se abrirão gratuitos ao seu engenho, vais ter que suar. :p:p:p

Maravilha de lugar, mantenha a gente informado dos resultados, pois eu tenho apanhado de umas traíras em um lugar parecido com esses. No bait uma maravilha, no fly uma desgraça.

Abraço

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  • Mosqueiro

Muito bom seu texto Fred.

Representa muito bem todo o clima bucólico das imagens e juntos convergem para um estado de espírito que traduz ..... tranquilidade, paz, sossego!

A vegetação e a água dos pequenos lagos são muito parecidos com açudes de alguns sítios particulares

na região serrana de SC onde costumo pescar black bass.

Foi a primeira lembrança quando vi as fotos, a sensação de tranquilidade é comum aos dois locais.

Abraço.

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  • Patrono

Fred, muito legal o seu relato e suas fotos. Sinto que o fly está lhe fazendo reviver os PDIs aproveitando que agora fugiu da cidade grande. Tente a pesca dos lambaris com moscas secas, é bem divertida !

Um abraço !

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  • Mosqueiro

Queridos amigos, muito obrigado pelas respostas; Beto, pegou o espírito da coisa... Drummond é... Drummond!

Serginho, os lambas estão na mira. Vou ver se pego um #3 pra ficar menos pesado.

Um forte abraço a todos!

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  • Mosqueiro

Mais uma vez, obrigado amigos! Em relação à poesia implícita no texto, acho que faz parte do espírito do fly fishing. A integração com o ambiente, a atenção nos detalhes... Sei lá, não sei se fui eu quem perdeu este feeling no bait casting ou o quê... O fato é que quando comprei o meu conjunto "Kookamonga" de fly um novo universo descortinou-se.

Depois que minha esposa engravidou da Julia muita coisa mudou na minha cabeça também...Acho que foi um conjunto de coisas ao mesmo tempo...rs... Mas sem dúvida a linha dançando no ar tem muito mais poesia, não concordam?

Editado por Fred Mancen
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  • Mosqueiro

Fred, seu relato mostra como a pesca com mosca é encantadora, mesmo sem peixe. BACANA!!!!

Aliás, eu sou suspeito, apaixonado por Minas Gerais, suas montanhas, suas águas, sua gente e culinária.

Abraços

Tio Luiz

PS: Eu só não curto (nem consigo pescar) com essa coisa de bois ou cavalos soltos no pasto. Fico grilado e não me concentro mesmo!

Tio Luiz, pois foram exatamente estas paixões que me fizeram vir para cá. Principalmente a paixão pela minha esposa, nascida aqui em SJDR. Aliás, esta paixão evoluiu a ponto de termos feito questão da Julia nascer aqui quando na época ainda morávamos no Rio... Esta terra é abençoada, de fato. Quando quiser matar as saudades destas bandas, cá estamos de braços abertos e taças a postos, com a costela de porco na brasa pururucando...

Gostei do texto Fred! :ok:

Beto participou do tópico com o maior estilo. :)

As traíras estão lá a nossa espera. ;)

Faustinho, quando quiser... Temos mais uns 2 meses no máximo antes do frio começar a pegar feio e dificultar as coisas - mas não inviabilizar....

Texto poético. Estou esperando para nos brindar um relato assim inspirado com uma captura

Se Deus quiser em breve, Neumann!!! rs...

Editado por Fred Mancen
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  • Mosqueiro

Grande Fred, pelo pouco que sei sobre Fly Fishing, posso dizer que fly é exatamente isto, com peixe ou sem peixe, estamos sempre aprendendo, nos pequenos detalhes de cada pescaria sempre tiramos uma lição.

Parabéns pelo texto.

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  • 2 semanas depois...
  • Mosqueiro

Essa regiao deve ser muito bela mesmo e so o prazer de estar nessa natureza ja deve ser bom para lavar a alma. Deve ter umas trairinhas escondidas por ai que lhe darap um enorme prazer no fly!

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