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Pescando na Patagônia Chilena


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  • Mosqueiro

NOTA:

Esse relato está dividido em três partes: na primeira, contamos nossa jornada pela região de Coyhaique, nosso encontro com Nino e Elsa (mais que guias, pessoas boas e apaixonadas pelo que fazem), e a pesca no Rio Guillermo e no lago Misterioso.

Na segunda, ainda com nossos anfitriões, a despedida do lago Misterioso, nossa aventura no Ñireghao e no Lago Central.

Na terceira, contamos nossa passagem por Puerto Varas, cada vez maior, mais turística e com menores possibilidades de pesca. Procuramos narrar de forma a que nossa modesta experiência possa ser útil, de algum modo, para todos que um dia pretendam pescar nessas áreas.

Pescando na Patagônia Chilena

Parte 1 - Rio Emperador Guillermo e Lago Misterioso

O grande dia chegou. Após meses de planejamento e ansiedade, partimos para mais uma viagem de pesca na Patagônia e que, dessa vez, tinha uma novidade. Iríamos conhecer a região de Coyhaique, famosa por abrigar alguns dos melhores rios de truta do mundo. Mas, como nessa vida nada é fácil, o clima nessa zona é muito agressivo, podendo a temperatura baixar a graus negativos, mesmo no verão; e isso após, no dia anterior, ter sido registrado um calor de 30ºC. Também é uma região de ventos constantes e cortantes, atingindo velocidades de 60 km/h e rajadas de 100 km/h com facilidade. Nos 15 dias que antecederam a viagem, minhas visitas ao Accuweather.com para verificar as previsões de tempo passaram a ser uma constante. Antes de irmos para o aeroporto dei uma última olhada na previsão e lá estava nosso destino pré-definido: os primeiros 8 dias de pesca, a serem dedicados somente à região de Coyhaique, seriam de muito vento e frio . De fato, após uma noite na simpática capital, Santiago ( onde aproveitamos para comprar material de atado na Rod & Gun ) voamos para Balmaceda, uma jornada de mais de duas horas nas asas da LANCHILE. Ao descermos no aeroporto da desolada Balmaceda - uma minúscula vila que pouco mais tem do que a pista de pouso - percebi que os álamos se retorciam com o vento. Perguntei ao comandante, ao descermos, qual a velocidade do vento, tendo sido informado que estava em 64 km/h. Fiquei pensando se teria competência para lançar uma mosca e pescar nessas condições. Enquanto a vontade de pescar dizia que sim, a razão dizia que não.

Ao sairmos do aeroporto logo encontramos Nino e Elsa, o casal de guias que contratamos para nos acompanhar na empreitada (esse casal recepciona o Paulo César há muitos anos e foi o mesmo que guiou o JR). A calorosa recepção e a mútua empatia logo nos mostrou que havíamos feito a escolha certa. Colocamos a tralha no 4X4 de Nino e nos dirigimos ao seu Lodge, em Coyhaique, que parece uma casa de boneca. No caminho, fomos conversando generalidades e, é claro, sobre as condições de clima e a possibilidade de se pescar, já nesse primeiro dia. Nino afirmou que, apesar do vento e do frio cortante, havia sim possibilidade de pesca e que, logo após o almoço, já iríamos atrás das trutas.

A Cabana em Coyhaique

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1 - O "Emperador Guillermo"

Um par de horas depois já estávamos vestindo nossos waders e partindo para o vadeio, num rio cuja transparência havia sido um pouco toldada pelas últimas chuvas, que também haviam elevado demais seu caudal, o que não era bom. O vento zumbia como besouro zangado e meus primeiros arremessos foram lastimáveis. Mas o constante incentivo de Nino fez com que eu aumentasse a concentração e, a despeito das rajadas frias que cortavam os lábios e congelavam as mãos, os primeiros "piques" começaram a esquentar o coração. Jacquelline, minha mulher, nesse dia foi conosco para o rio, mas não pescou, encantada que estava com a beleza do lugar, só filmava e fotografava. E assim fez essa seqüência da primeira trutinha no rio "Emperador Guillermo", a qual seguiram-se muitas outras:

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Dias depois, voltamos ao "Emperador Guillermo", com condições mais favoráveis. Embora o vento continuasse muito forte - obrigando-nos a fazer arremessos entre as rajadas - a água estava bem mais baixa e sem turbidez. Variava entre o chá claro e o verde transparente, abrigo perfeito para mimetizar as espertas trutas. Tivemos que deixar de lado as varas #3 e pescávamos com vara #5 de ação extra-rápida, para tentar cortar o vento. A mosca, criada pelo Nino (que praticamente não permitia que se usasse outra coisa) é algo entre uma Chernobil e uma aranha de EVA, que funcionava muito bem. O ruim era seu volume, com todo o vendaval.

O Emperador Guillermo é um rio clássico para pesca de trutas, com águas rasas em abundância, permitindo o fácil vadeio; águas rápidas, vários poços e refluxos, fazendo a alegria de qualquer mosqueiro. E nessa nossa segunda visita não decepcionou: foram dezenas de trutas, desde pequenos exemplares, até lindos torpedos arco-iris ou marrons. Eis algumas fotos:

A primeira do dia:

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Arco-iris conhecendo a chernobyl by Sérgio Augusto

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Hooked!!!!!

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Dancing!!!!

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Smilling!!!!

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2 - O Lago Misterioso

A região de Coyhaique tem mais de 50 lagos, lagunas e rios onde se pode pescar, tudo isso num raio de cerca de 200 km do centro da simpática cidade. Muitos desses cursos d'água já não tem a abundância de peixes que já tiveram um dia, pois no Chile sempre existiu o hábito de matar os peixes e, além disso, a fiscalização é praticamente inexistente. A idéia do pesque & solte ainda é recente e os chilenos interioranos são muito resistentes à mudanças. O ponto positivo é que não existem grandes fontes de poluição (a não ser as causadas por acidentes naturais, como terremotos e vulcões, mas essas são incontroláveis). Conquanto existam inúmeras possibilidades de se pescar sem guia na região, percebe-se uma expanção significativa das propriedades privadas ao longo de rios e lagoas, dificultando ou impossibilitando o acesso aos melhores pontos. Em alguns, paga-se uma taxa ao proprietário e o acesso é permitido; noutros, somente com um guia, pois abrem-se e fecham-se porteiras de fazendas, trafega-se por caminhos privados dentro dessas fazendas, até chegar ao curso d'água. Nesse caso o guia é imprescindível, pois ele já tem acordo com todos os donos das terras por onde habitualmente passa com seus clientes. Existe também a possibilidade oferecida por alguns lodges ou guias, de acesso a trechos exclusivos, normalmente muito piscosos. E essa é uma das propostas do Nino, que, além dos chalés em Coyhaique, possui cabanas no Lago Misterioso, no Lago Central, no Rio Blanco e, atualmente, está fechando a compra de 4 hectares na beira do rio Ñiruao.

De Coyhaique ao Misterioso leva-se algo como 3 horas, pois grande parte do caminho é em estrada de cascalho, atravessa-se 8 porteiras de fazendas e, no trecho final, trafega-se por uma trilha pelo meio da mata nativa e preservada.

Mas, ao chegarmos, a visão é de rara beleza. Um enorme lago de águas verdes e profundas, cercado por montanhas com neves eternas em suas cristas e pouqíssimas cabanas em seu perímetro. A propriedade do Nino ocupa 27 hectares e seu chalé está perfeitamente integrado à natureza. Vejamos algumas fotos:

A super-cabana, a poucos metros do lago. É caminhar e lançar. Jacquelline pescou a maior truta da viagem a apenas 300 metros de caminhada da cabana.

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Como em toda a zona, o vento soprava com força - 40/50 km/h - mas, de acordo com a direção, em uma parte ou outra do lago encontram-se áreas mais protegidas onde se pode lançar a mosca, entre cada rajada.

Logo ao chegarmos arrumamos as tralhas e iniciamos o que seria nossa rotina nos próximos três dias: pescar, pescar e pescar. E, nos intervalos, desfrutar das saborosas refeições preparadas pela incansável Elsa e da companhia muito amiga do casal.

Elsa, nossa anfitriã, Jacquelline e eu, almoçando "no estilo"

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Reparem na cor dos filés dessas arco-iris: a cor intensa é em função da alimentação de minúsculos camarões (1cm) que, aos milhões, vivem no lago.

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Nino, nosso guia e anfitrião, preparando na "mantequilla negra"

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Pescávamos embarcados e da beira do lago, em função do vento. Havíamos levado um estoque de moscas para americano nenhum botar defeito, mas nem as tocamos. Nino torcia o nariz para todas elas. E assim nos deu as moscas com que pescaríamos 95% do tempo: uma feita em EVA com o objetivo de ser uma mata-piojos impressionista e outra, uma sanguessuga de cauda de coelho. Jacquelline usou spinner e, só para variar, tirou a maior das trutas.

E aí vão as ilustrações desses dias de sonho: Algumas fotos da pesca no Misterioso:

As arco-íris, todas muy peleadoras

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Algumas marrons...as maiores de nossas vidas.

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Qual será a expressão de maior felicidade? Posar com a truta, ou vê-la nadar lampeira, de volta ao lago?

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  • Mosqueiro

Pescando na Patagômia Chilena

Parte 2

Despedida do lago Misterioso, o Ñireguao e o Lago Central

Último dia no Misterioso. Durante o café-da-manhã tive que aguentar as gozações de todos. Na tarde anterior, em termos de trutas grandes, tinha sido 5X2 para Jacquelline...Afora o fato dela ter pego a maior peça.

Mantive o bom humor e, a despeito do frio e do vento enlouquecedor, fui para a beira do lago. Aí, as recompensas:

Brrrrr!!!! O termômetro do PC

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A primeira da manhã

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A irmã, 3 minutos depois

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Mais uma busca pelo lago

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E mais uma linda marrom

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O abraço de despedida do Misterioso

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3 - O rio Ñiruhao

Rio de águas verdes transparentes e lentas, o Ñiruao é considerado outro curso clássico e é o preferido dos pescadores norte-americanos, que tem comprado inúmeras propriedades em suas margens. Dentro de alguns anos não mais existirão acessos públicos ao Ñiruhao. E, como na pesca as coisas tendem a acontecer ao contrário do que imaginamos, no dia que elegemos para pescar no Ñiruao não havia uma brisa ( coisa raríssima ). E, no Ñiruao só se pesca com vento. Os campos à margem do rio abrigam a maior legião de gafanhotos do mundo. O vento forte faz com que os gafanhotos caiam às centenas no rio, se constituindo na principal dieta das trutas do local. Assim, pesca-se com chernobil ou com imitação de gafanhotos. Como não havia vento, não havia alimento na água para excitar as trutas. Isso combinado a um sol forte, águas com uma transparência invulgar e com a temperatura elevada ( cerca de 16º ) levou a muito poucas ações. Pescamos poucas trutas, mas, ainda assim, valeu pela beleza do rio e pelo dia de muita paz.

O belíssimo Ñiruguao

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A felicidade de ter minha mulher como companheira de pesca

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Uma truta do Ñiruguao

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4 - O Lago Central

O Lago Central é ladeado pelo Cerro Castillo, impresionante formação rochosa com neves eternas em seu cume. Dista duas horas de Coyhaique e seu acesso é bem tranquilo, a maior parte do tempo por asfalto, pela Carretera Austral.Somente a parte final é feita em cascalho. Lá, a propriedade não é do Nino, mas alugada. Assim, embora esmeradamente limpa e acolhedora, não tem o mesmo charme das cabanas do Nino, mas serve bem demais ao propósito a que se destina.

O lago tem grande área e possui águas de um inacreditável verde esmeralda transparente, o que o torna mais técnico que o Misterioso, pois os arremessos tem que ser mais longos e precisos, em direção à margem. As margens oferecem várias situações, desde fundos e imensos poços junto a paredões rochosos, até áreas rasas, cobertas por juncos, onde as mata-piojos ( libélula ) voam às centenas. É algo impressionante e belo ver uma truta de mais de 5 quilos subir como torpedo, mostrar todo o corpo e pegar uma mata-piojos em pleno ar. Inclusive, nesse lago, a maioria das trutas que peguei ( e as que perdi...e perdi muitas, pois elas erravam o bote ) tomaram a mosca mal ela tocava a água. Ou seja, para ter êxito era fundamental fazer bons lançamentos.Justamente aí me perdi: para pescar no lago Central é necessário saber arremessar, com precisão, pelo menos 25 metros, sob vento intenso. Não sei fazer isso. Conseguia lançar entre as rajadas do vento, que, mesmo nas áreas mais protegidas chegava a 25/30 km/h e, nas áreas abertas, soprava a mais de 60 km/h. Meus lances dificilmente passavam dos 15 metros...às vezes chegavam a uns 20.

Mesmo com o vento, o lago Central nos proporcionou grandes alegrias, pois a dificuldade em capturar cada truta era compensada pela força com que lutavam, devido às águas excepcionalmente oxigenadas e ao alimento abundante para os peixes. Todos muito fortes e saudáveis, até porque no Lago Central só existem trutas marrons, que não tem que competir com as vorazes arco-íris, como no Misterioso. Além da pesca, desfrutamos dias de uma paisagem magnífica em companhia do Nino e da Elsa. Jacquelline estava particularmente encantada com os pés de frutas silvestres, inclusive framboesas. Às vezes pescava e, novamente, tirava as maiores. Eis algumas fotos do lago Central:

O Vento e o Lago

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A Cabana, realmente rústica, uma das poucas construções no entorno do lago.

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A Esmeralda Transparente

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Ouro e Esmeralda

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Quase maternal

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A minha primeira no Central

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Bocãooo!!!

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Longelínea

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Voltando para a cabana

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Felizes, back to Coyhaique

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Muito mais temos em arquivos fotográficos e em filmes, mas além disso tomar um tempo enorme, o objetivo aqui é tão somente fazer uma narrativa ilustrada para compartilharmos nossa alegria e informações que julgamos de relevância. Estamos editando um filme, compacto, mas ainda vai levar temo e, amanhã, esperamos terminar a Parte 3, referente a Puerto Varas.

Os Guias, Nino e Elsa

Nossos guias em Coyhaique, Nino e Elsa, foram os melhores que já tivemos em nossas vidas. Ele é excelente lançador/pescador, caloroso, passional e absolutamente apaixonado pelo que faz. Não tem horários. Se o cliente quiser pescar de 6 da manhã até 10 da noite, isso para ele será um prazer. A Elsa é uma guerreira, incansável, sempre fazendo tudo para que nos sentirmos parte da família (nas cabanas beira lago convive-se no mesmo espaço comum). Além disso cozinha bem e também sabe pescar com mosca e spinner, sendo por vezes companheira de Jacquelline. Só temos a agradecer ao casal pela acolhida excepcional (que em muito excede o que se espera de uma relação guia/cliente) e, especialmente ao Nino, que proporcionou a oportunidade de pescarmos as maiores trutas de nossas vidas.

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  • Mosqueiro

Pescando na Patagônia - Parte 3

Puerto Varas, LLanquihué, Maullin e Petrohué e Algumas Dicas

Mais uma vez retornamos à graciosa cidade de Puerto Varas. Desde nossa primeira visita até hoje, muita coisa mudou. Mudou para pior do ponto de vista ecológico. Crescimento da ocupação humana, turismo além da capacidade da cidade,imensa pressão de pesca e pesca predatória (praticada por moradores de baixa renda da região) vem transformando o que já foi um paraíso em mais uma referência do passado. Nesse ano de 2008, devido ao aquecimento global que vem modificando o clima mundial de forma dramática, a seca na região dos Lagos e na Patagônia Chilena afetou o nível dos rios e a migração de trutas e salmões.

1 - O Lago LLanquihué

Com sua imensa extensão e volume de água (com nível 1,5 mt mais baixo em relação ao nível normal) o LLanquihué - que em alguns pontos tem 300 metros de profundidade - continua cristalino e abrigando uma significativa população de trutas residentes, inclusive enormes arco-iris, difíceis de serem pescadas com as condições climáticas reinantes: uma grande estiagem, temperatura, durante o dia de 35ºC e água a incríveis 18º/19ºC. Com isso as trutas mantiveram-se todo o tempo nas águas profundas, mais frias, comendo pancoras (esse ano havia pancoras em quantidades industriais) e outros peixes.

Nas águas do LLanquihué também vivem muitos salmões do Atlântico, que passaram a integrar a fauna local a partir da instalação da "indústria" da criação do salmão no Chile. De qualquer forma, embora longe de ser um ponto de grande atração para o pescador de mosca, o LLanquihué propicia alegrias quando se quer um salmão para comer: a briga é prá valer, o peixe é lindo e um par de horas lançando spinners ou colheres em sua águas costumam garantir um belo jantar. E tudo isso num cenário maravilhoso, dominado pela imponência do vulcão Osorno. Algumas fotos do local.

O Llanquihué, visto de nossa cabana no Puerto Pilar (esse é muito legal), com o Osorno ao fundo.

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Uma horinha de spinner no fim da tarde: salmões frescos pro jantar!

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No Estilo, eh, eh

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Que lugar lindo para se pescar o almoço!

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As palafitas do Puerto Pilar

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O Puerto Pilar, Lodge e suas Cabañas...Já ficamos nelas e são magníficas

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2 - O Rio Maullin

O Maullin é o único grande tributário do LLanquihué, que começa na cidade do mesmo nome e serpenteia por quilometros até seu estuário no Pacífico. Tecnicamente pode ser dividido em três partes: alta, média e baixa. A parte alta, desde a cidade de LLanquihué, onde nasce no lago de mesmo nome, vai até ao ponto onde fica o rancho da associação de guias de Puerto Varas. Era o trecho mais lindo do rio, mas que hoje já sofre visíveis efeitos

da ocupação humana. Em primeiro lugar, a cidade de LLanquihué é a mais pobre das que margeiam o lago. Comunidades populares habitam o entorno do rio em seu início, gerando um nível importante de poluição. Através da água, que continua transparente, podem ser vistas dezenas de garrafas PET e lixo sólido agarrado às pedras do fundo. Além disso, os moradores pescam com colheres e, principalmente, com iscas vivas, para comer. E fazem isso de forma rotineira. Dessa forma, só se pesca no primeiro trecho do Maullin após cerca de dois quilômetros de descida. É um rio com trechos muito fundos, que se alarga e estreita em curvas com vegetação abundante. Com águas verdes, este trecho é repleto de trutas arco-íris pequenas, raras fários de bom porte e cardumes de salmões salar, que nadam do lago ao rio em busca de alimento. A despeito da importância turística desse rio é justamente no meio do primeiro tramo que são lançados todos os dejetos (muito tratados quimicamente, é verdade) da cidade. Dia e noite um cano apontado como uma arma destruidora, lança incontáveis litros de um caldo branco, leitoso e mal-cheiroso, toldando a água por mais dois quilômetros. É algo inacreditável! Não passamos neste trecho esse ano, pois o nível baixo das águas, em muitos pontos, não permitia a navegação e, além disso, a visão daquele escoadouro sempre nos incomodou, desde nossa primeira visita à região.

O trecho médio do Maullin é o melhor para pesca, mas quase impossível de ser pescado. Corta propriedades privadas, impedindo o acesso às suas margens e também como se estreita muito, a vegetação se adensa, formando barreiras que impedem as flotadas.

O trecho baixo é o que vai até ao mar. Mais lento, de uma rara beleza, com suas margens cobertas por denso bosques de pés de amora (estavam carregadas;Jacquelline ficou apaixonada), tem imensas árvores que sombreiam boa parte do percurso; no final essa vegetação vai sendo substituída por juncos que, pouco a pouco se integram ao manguezal do Pacífico. Com muitos poços e refluxos, suas águas que nesse trecho são cor de chá transparente, já abrigou grande população de marrons. Mas as condições de pesca predatória vem dizimando esse peixe no local. Pescamos desde 10 horas da manhã até 9 da noite e o resultado, em termos de capturas, não passou de 15 trutas. Mas, como passeio, continua valendo. Eis as fotos:

A Paz no Maullin

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Jack e as amoras silvestres

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Luiz e a truta silvestre

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Lu and Jack...

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3 - O Rio Petrohué

Nasce no Lago Todos os Santos, corre sobre rochas e pedras vulcânicas e tem uma cor verde tão inacreditável, que parece que jogam anilina em suas águas. Não tem qualquer fonte de poluição e, apesar da pressão de pesca, ainda abriga grande população de trutas residentes, fario e arco-iris. No início da temporada é palco de importante subida de salmões do pacífico e de trutas sea runs. Infelizmente, ambos são perseguidos pelos pescadores chilenos e por visitantes, que os pescam com spinners e colheres com garatéias. Mata-se muito peixe! É impressionante que no Chile, com todas as possibilidades naturais para pesca com mosca, que a modalidade seja relegada a um segundo plano. Nesses dias em que passamos em Puerto Varas só fomos pescar no Petrohué uma única vez, pois com sol fortíssimo, calor, temperatura da água em 18ºC e rio 1,5 mt abaixo de seu curso, sabíamos que as possibilidades seriam pequenas. Dito e feito: pescamos de 8 da manhã a meio-dia e apenas três trutas deram o ar da graça. Pescamos no primeiro tramo do Petrohué, entre sua nascente e os saltos, mundialmente famosos. O segundo tramo sempre foi difícil de ser pescado, por conta das corredeiras e da pedraria e agora, mais baixo, está ainda mais difícil. Já seu terceiro setor, que finda no mar, mesmo com as águas baixas ainda oferece grandes poções, que abrigam salmões retardatários (esse ano a migração atrasou e ainda se observam exemplares totalmente prateados). Mesmo com a pescaria indo mal ficaríamos mais tempo, pela beleza do rio, mas uma ventania daquelas nos fez voltar mais cedo para nossa cabana. Fotos do Petrohué.

Pouco abaixo das quedas do Petrohué

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Quedas do Petrohué

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Pescando no Petrohué - Tramo Alto

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Vento, amoras e um rio cor de esmeralda...Nem precisa de trutas

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Dicas:

- É importante levar roupas técnicas. Jaquetas e casacos realmente impermeáveis, capazes de bloquear o vento e desenhados especialmente para pesca com mosca são fundamentais. Da mesma forma as roupas de baixo, de tecido térmico, devem ter peso "heavy" ou "polar"e qualidade premium. Meias específicas também são importantes. Vi pescadores reclamando do frio nos pés, que se gelam a partir da umidade retida. Como todo o resto, os pés devem se manter secos e somente as meias específicas para isso dão esse conforto. Nada de improvisar com "aquela meia de lã quentinha feita pela tia do interior".

Uma coisa que costumo fazer e que funciona bem é pescar com luvas cirúrgicas em lugar das tradicionais luvas de pesca, muitas vezes incomodas. Camisas de pesca em flanela grossa, uma cashemere (DE VERDADE) e um cachecol de lã complementam o conjunto.E não esquecer bonés forrados e gorros que protejam as orelhas e nuca. Ou seja, não se pode improvisar nem economizar com as roupas de pesca, se realmente quisermos nos manter confortáveis, secos e sem frio ao longo de todo o dia de pesca, que pode durar até as 10 da noite.

Pescamos com frio de 3ºC (com vento a sensação térmica é de -5ºC) e em nenhum momento nos sentimos desconfortáveis. Mesmo Jacquelline, muito friorenta, não sentiu qualquer desconforto em relação ao frio. Ela completava sua indumentária com um colete de plumas de ganso. E creiam-me, principalmente aqueles que nunca pescaram nessas condições: uma roupa inadequada, que faça sentir frio ou suar, causa tanto desconforto que acaba com a pescaria.

- Levar os medicamentos de uso pessoal e um kit de primeiros-socorros para cortes e para dores inesperadas. Não esquecer termometro e carregar sempre aspirina e algum vasodilatador: pode fazer a diferença. Oriente-se com seu médico. Não esquecer bloqueador solar.

- Nem pensar em comer novidades, pratos exóticos ou cometer qualquer outro excesso. Estamos ali para pescar, usando o preciosíssimo tempo de nossas férias e pagando muitas doletas. Portanto, não podemos deixar que nada dê errado. Por exemplo: só comemos mariscos nos dois últimos dias em Puerto Varas.

- Em Coyhaique e vizinhanças existem pelo menos 10 rios fáceis de pescar, onde se pode pescar sem guias. As trutas são pequenas para os padrões da região (podendo chegar a 1,5kg) mas a diversão é enorme. Pesca-se o dia inteiro!

Pode-se pescar com fácil acesso nos rios Coyhaique, Simpson e Norte. Mas o Emperador Guillermo, tornou-se o meu predileto. Também é fácil pescar em rios como o Blanco - e também o Ñiruao - que no início de temporada abrigam a corrida dos salmões...e todo mundo, inclusive o Nino e demais guias de mosca - usa colher. Esse ano um espanhol, cliente de Nino, bateu o recorde do salmão no local: 28 quilos. Mas exemplares entre 10 e 15 quilos são comuns.

- Todas as referências às possibilidades de pescar sem guias não significa pescar sozinho. Não recomendaria a ninguém a se aventurar só, em águas rápidas e com fundo de pedras escorregadias. Uma queda com wader e botas pode ser fatal, mesmo em rios de águas rasas. Assim a dupla de pesca deve estar sempre em contato visual. À propósito, o cinto de segurança do wader é para ser usado sempre bem ajustado. Assim, numa eventual queda na água O wader não se encharca da cintura para baixo.

- A escolha de guias é importantíssima. Lembre-se que você vai dividir os preciosos dias de suas férias com uma pessoa a qual não conhece. Assim, além da competência técnica do profissional, da responsabilidade, tem que existir empatia, pois do contrário, o que deveria ser prazeroso torna-se um incômodo.

- O equipamento para Coyhaique e região deve incluir: varas #3 ou #4 para os rios e #5 ou #6 para os lagos. Pelo menos uma delas com ação extra-rápida para dias de muito vento. Linhas flutuantes e afundantes de praxe e líderes não inferiores a 3X. Nos lagos se pesca com 1X ou 0X todo o tempo e sem colocar tippet, para evitar a perda de resitência causada pelo nó. Não há necessidade de grande preocupação com variedade e quantidade de moscas. Nos lagos e rios perdem-se muito poucas. A exceção é para o Ñiruhao, onde perdem-se muitas moscas chernobyl nas ramas da margem oposta. Durante 80% do tempo pesquei com linha flutuante e com as tais aranhas em EVA. Somente nos finais de tarde o Nino "permitia" uma Caddis. Nos períodos em que pesquei com afundante, também só foi usado um só tipo de mosca: sanguessugas marrons ou pretas. Apesar do vento da região, resisti e não usei spinner. Mas nenhum preconceito quanto ao seu uso. Jacquelline usou e se divertiu muito. O importante é que as fisgas das garatéias sejam realmente aplainadas. O Nino não permite que se use o puçá (net) e depois de resistir tive que concordar que ele tem razão. Por vezes o peixe pula e se torce dentro do net e a linha do líder entra pela guelra, ferindo a truta mortalmente. Assim, para manusear o peixe a ser fotografado, deve-se gelar bem as mãos na água e segurar sem pressão. O bicho fica quieto o tempo suficiente para as fotos. Para o peixe que vai ser solto sem foto, mante-lo na água e com um pequeno golpe do alicate (consegui aprender) tirar o anzol sem tocar o peixe.Trutas a serem levadas para consumo (somente arco-iris) levam uma pancada na cabeça e são sacrificadas de imediato.

- Todos que tencionem ir à região e que não sejam grandes lançadores (meu caso) devem procurar treinar e aprimorar (e muito) o lançamento no vento. Algo como ir treinar na lagoa de Araruama em agosto ou setembro pode ser um começo, pois esse será só metade do vento de Coyhaique. Deve se ter em mente que é necessário lançar, pelo menos, 20 metros com um vento furioso que normalmente sopra para o lado oposto àquele que queremos arremessar. E outra coisa é que, na região, o vento é "rondado": expressão da vela para designar vento que não mantém uma direção fixa.

- Viajei em fevereiro, pois foi o período onde pudemos conciliar nossas férias. No entanto, o ideal é pescar em Coyhaique no início ou fim de temporada. Sai muito mais peixe e o vento é menor.

- Para quem nunca foi, Puerto Varas continua valendo a pena. O lago Llanquihué é belíssimo, dominado pelos vulcões Osorno e Cabulco e oferece centenas de opções de hospedagem em seu entorno. De alguns lodges é possível pescar salmões e trutas (com mosca ou com colher, dependendo das condições) a escassos 30 metros das cabanas, sempre muito confortáveis, com dois quartos, lareira, geladeira, água quente e demais comodidades.

- Dos rios da região de Puerto Varas, atualmente só vale a pena pescar no Petrohué em início ou fim de temporada. No início, para quem gosta de pescar salmões, continua sendo uma opção, embora, a cada ano, diminua a quantidade de exemplares capturados. No final, com águas frias, pesca-se bem na parte alta as trutas residentes. De qualquer forma, por sua impressionante beleza, o Petrohué vale a visita. Atenção: jamais viajar para a região em janeiro, pois hordas de tábanos gigantes vão infernizar sua vida. Basta parar na beira do rio para, em segundos, esses moscões do tamanho de marimbondo zumbirem, às centenas, a sua volta. Mordem (com a boca) e sua mordedura é dolorosa.

O rio Maullin, que no passado me deu muitas alegrias, precisa ser urgentemente fechado à pesca por muitos anos, além de ter solucionada a ocupação em seu entorno e ter equacionado o problema dos dejetos. Existe um movimento de guias nesse sentido. Mas, como não creio que isso vai acontecer e o considero um rio condenado.Até porque os guias entraram em descrédito com os chilenos. Explico: os guias chilenos conseguiram, tempos atrás, poder de polícia para fiscalizar rios, pesca ilegal, etc...Só que em lugar de usarem esse instrumento para o bem, começaram a exorbitar, retirando dos rios - de forma ilegítima - todos que pescassem sem guia, citando legilações inexistentes, o escambau, tudo visando o benefício próprio. Logo perderam esse poder. Como não existem guarda-parques a coisa corre ao Deus dará. E ainda me perguntam porque admiro tanto os EUA.

O rio Pescado, gracioso e pedregoso curso, estilo MDC, e que já foi considerado um dos melhores rios de truta do mundo, continua morto. Já há alguns anos virou zona de pesca especial, necessitando-se de permissão específica de pesca - cara - mas ainda não se recuperou. Nunca pesquei nele no passado, mas sei que era muito especial. Nessa vez, com o estio, está um fiapo d'água.

O Hueñu-Hueñu, o preferido do nosso amigo Scotti, está outro fiapo d'água. É...o aquecimento global é coisa muito séria. Ou seja, isso tudo para dizer que, para fins de turismo/pesca, quando se viaja com a família, vale uma visita a Puerto Varas, com esticada em Frutillar. Três dias, não mais, com direito a pescar salmões no lago para saboreá-los, no jantar, no aconchego da cabana. Para quem for somente para pescar, pode esquecer Puerto Varas.

- Finalmente, fico à disposição dos companheiros para informações adicionais (como fones e emails de lodges e guias, não colocados nessa resenha, para que a mesma seja isenta de qualquer conotação comercial)

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  • Patrono

Luiz o relato está magnífico, mas ainda não pude ver as fotos aqui do trabalho por causa do Firewall, não vejo a hora de chegar em casa para vê-las. Aguardo as demais partes do relato,

Obrigado por dividir conosco esta aventura !

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  • Mosqueiro

Beleza de relato Luiz,

Dureza a realidade... este não é o mesmo Chile que pesquei a muitos anos atraz.... e a 2 não voltei mais...

Tens toda a razão!!!!

Por que não pescaste no Puelo?

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  • Mosqueiro

Parabéns pela pescaria e pelo relato !!!

Só de ver as fotos do Petrohué me dá uma saudade desse lugar !!

Quando pesquei no 1o. tramo do Petrohué, táva um vendo incrível, uma coisa de louco...

mas enfim lugar fantástico !!

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  • Administrador

Espetacular!!!

Primoroso seu relato Luiz e quero te agradecer por ter compartilhado conosco tão belos momentos e alegrias. Sei como foram importantes esses dias de pescarias e ainda mais com uma pescadora fantástica ao seu lado, fiquei impessionado com a trutona! biggrin.gif

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Valeu! okok.gif

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  • Mosqueiro

Amigos

Obrigado pelo carinho e incentivo. Foi, de fato, uma viagem de sonho , cheia de beleza e encantamento. E tudo isso se torna mais especial pelo fato de Jacquelline partilhar comigo o amor à natureza, a vida simples, o gosto pela pesca e pela cozinha, carinho e companheirismo. A ela, meu amor e admiração, que na longa viagem de volta de 26 horas - fruto de inúmeros atrasos e vôos perdidos - em vez de reclamar que teria que sair diretamente do aeroporto para assumir um plantão no hospital, sem tempo de dormir ou passar em casa, já sonhava comigo as próximas férias em Esquel/Chaitén...ou quem sabe no Canadá (vai depender do din-din) no ano que vem.

Abraços a todos!

Luiz

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  • Patrono

Luiz,

Achei simplesmente M A R A V I L H O S A a sua matéria bem como as L I N D A S fotos.

Mais maravilhoso ainda deve ter sido em companhia da sua amada, isso completa e sela com coroa de moscas he he he a sua pescaria. Prá não dizer de ouro, bem lá vai: Coroa de moscas atadas com anzois de ouro.

Meus sinceros parabéns, e que voces façam muitas pescarias dessa daí.

Muito obrigado por essa matéria. Vale à pena ve-la. Já a vi duas vezes.

O Paulo me passou o endereço do Nino e pretendo ir lá no ano que vem.

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