Ir para conteúdo

Apresentação é (quase) tudo no Fly


Postagens Recomendadas

  • Moderador

Olá,

sou de Porto Alegre e moro no sul da Alemanha, e esta informacao é relevante
porque se nao fosse por isso, talvez eu nao nunca tivesse sido contaminado pelo
"bug". Foi assim:
Após alguns anos de inatividade, e morando às margens de 3 rios (Danúbio, Iller e Blau),
foi me dando aquela vontade de pescar. Fui me informar do que era necessário para exercer
a atividade e cai de costas. Para pescar na Alemanha, se voce nao for um turista, é
necessário obter uma habilitacao, isto é, fazer uma prova aplicada pelo Estado.
E para fazer a prova, é obrigatório frequentar um curso, normalmente oferecido
por uma associacao.
No meu estado (pescaria é regulada pelo estados da federacao), a prova é aplicada só
1 vez por ano, em janeiro. O curso acontece em novembro. Sabe quando eu descobri isso?
Em dezembro. Isso mesmo. Nao tem jeitinho. Do momento que eu me decidi voltar a pescar,
(a esta altura eu ja estava "seco"), eu tive que esperar mais de ano pra jogar uma linha n'agua.
E ai que o Fly foi a minha tabua de salvacao. Eu nunca havia praticado o Fly, mas eu
passeava pelos rios e via alguns colegas pescando com Fly. Fascinante. Comprei um combo
Greys, uns DVDs instrutivos, e comecei a praticar na grama. Comprei livros, um kit de atado,
olhava o Youtube, e comecei a atar moscas. De todos os tipos, tamanhos e cores. Quando
passeava pelos rios, virava pedras, passava um filó na agua e olhava tudo com atencao.
Também comprei um óculos polarizador, e comecei a enxergar os peixes.
Fiz tudo isso, sem pescar, durante 1 ano. Finalmente, voltei a pescar. No comeco, um pouco
com fly, mas bastante com Spinning, alvo truta marrom (nativa) a arco-iris. Sem muitos amigos
no comeco, com quem pudesse aprender alguma coisa, ficou claro que fly exigia um pouco mais
do uma proficiencia basica no casting e algumas moscas classicas. Também ainda me faltavam
as licencas para as "aguas boas". É isso mesmo: alem da habilitacao, voce precisa da licenca para
o trecho d'agua, e para bons trechos é dificil conseguir licenca (aqui ajuda jeitinho).
Mas a coisa evoluiu, quando eu comecei a me enturmar (continua...).
  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Patrono

Muito parecido com a situação aqui no Brasil kkkk.

Você necessita de uma licença, mas 90% pesca sem ter.

Aqui fazemos muitas leis (muitas inúteis ou descabidas), por que politico tem que mostrar serviço e por que as autoridades responsáveis por sua fiscalização precisam ganhar a vida (propina).

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Minha cunhada mora em Nendingen e passeei pelas margens no Donau com um olho na esposa e o outro nas águas... conta mais que essa história me interessa sobremaneira.

Seja bem-vindo e divirta-se :)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Olá de novo,

Abre parentesis.

O "direito de pescar" em cada trecho de água continental da Alemanha é arrendado a alguém, com registro em cartório. A maioria esta arrendada a associacoes de pesca (o que nao impede que alguns trechos estajam em maos privadas). Existe regulacao do estado para alguns aspectos, por

exemplo, para o maximo de licencas anuais que podem ser emitidas para o trecho. Mas o gerenciamento é responsabilidade do arrendatário, que cobra precos de mercado pelas licencas.

Fecha parentesis

Para obter as licencas para as aguas proximas a mim, eu me filiei à associacao de pesca local. Na primeira reuniao anual da associacao, eu assisti a uma apresentacao das atividades de um grupo muito especial de voluntarios. O que eles faziam? "Chocavam" ovas de truta no rio, com o objetivo de recuperar a populacao selvagem de trutas marrons (em oposicao a populacao resultante por peixamento com peixes adultos oriundos da piscicultura).

Nós (aderi ao grupo, claro. Sonho de crianca) compramos ovas fertilizadas, e as mantemos no rio dentro de caixas especiais, que maximizam a chance das ovas eclodirem. Após a eclosao, na agua onde elas vao viver, nos esperamos até os alevinos tenham consumido o saco vitelino e ai soltamos. Voces sabem,

salmonídeos desenvolvem uma ligacao com o lugar de nascimento, e voltam a este local quando adultos para desovar. A truta marrom tende a ficar em uma mesma regiao. Algumas moram anos debaixo do mesmo toco.

Se voce esta curioso, veja este video postado pelo grupo na pagina da associacao no youtube:

Acontece que o grupo de voluntarios era formado por Mosqueiros. A elite da tropa. Porque na hierarquia de valores daqueles companheiros, o ranque mais alto é ocupado por aqueles que entendem e cuidam do rio.

Ali entao, encontrei minha turma. E quando nos encontravamos no rio para pescar eu observava e fazia perguntas. A parti dali, o meu equipamento de Spinnng ficou jogado em um canto e nunca mais foi ao rio. A eclosao, a minha, estava completa.

Editado por Carlos_Mitidieri
  • Like 3
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Obrigado pelas boas vindas. Se vierem à Alemanha e quiserem informacao, me escrevam. Se vierem para perto de Ulm, me escrevam, provavelmente eu possa arranjar um dia de pesca aqui na regiao. Licensas diarias sao sao possiveis, mas para aguas boas, em epocas boas, é preciso que se reserve com antecedencia. Por exemplo, temos aqui em Ulm um "Chalk Stream", o Blau, um dos poucos na Alemanha. E possivel conseguir licencas diarias para um trecho de 1,6 km, mas para a epoca da Mayfly, e preciso reservar cedo.

Me cadastrei no site por curiosidade sobre o desenvolvimento do Fly no Brasil. Eu tenho especial interesse pelo desenvolvimento das populacoes de truta nas aguas brasileiras. Tambem, sei la, pra de repente poder ter alguma orientacao para pescar quando eu vou ao Brasil. De vez em quando eu vou pra Porto Alegre.

Eu tive muita sorte. Aqui em Ulm tem 2 rios muito representativos para o Fly sobre salmonideos: O iller, que nasce nos Alpes, e o Blau que é um "Chalk Stream". Dois tipos classicos, mas bem diferentes, de pesqueiros de salmonídeos. Nos dois temos trechos de Fly-only.

O Iller tem uma populacao selvagem de Grayling, verdadeiramente um privilegio. E stoneflies, Caddys e Efemeras diversas. E fundo de cascalho. E agua muito limpa.

O Blau é tambem muito limpo. Fundo de areia fina, nao da pra andar em todo lugar nao. Biomassa gigantesca, peixe graudo, em quantidade, e educado.

Bom, abracos.

Editado por Carlos_Mitidieri
  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Show... ficamos em contato. Qualquer coisa que estiver ao meu alcance, é só falar. Quando for à Alemanha novamente, agendo uma visita, mesmo que não seja para pescar.

Grande abraço.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Ao término do 1º trecho da apresentação, pensei que ficaria dias sem conhecer a "continuação" que já estava abaixo. Linda estória!


Mostrei-a ao esposo, um tanto adoentado. De repente, seus olhos marearam , como sempre acontece diante de reportagens ou informes de gdes manejos ou organizadas ações em prol da Natureza e estoques. Assim, nem precisei perguntar. Sei que lhe passaram, como também por minha mente, mil fantasias conservacionistas ; e de quão lindo tudo poderia ser, com pequenos exército de homens de boa vontade e determinação.



Fuçando os vídeos que ladeiam o indicado, achamos um sobre passagens de peixes em barragens hidrelétricas, que muito nos encantou. Sabendo nicas da língua, não impediu captar ideia central. Os detalhes entenderemos mais à frente.



Belíssimo histórico, Mitidieri. Novas visões e experiências enriquecerão d+ o nosso Fórum, onde certamente te sentirás em casa.


"Willkommen" !... ou... "Herzlich Willkommen"! ? ( Bem vindo !! )


Editado por Ilza
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Administrador

Que depoimento legal Carlos! :ok:

Seja bem vindo ao fórum Mosqueiros do Rio e trazer conhecimentos de pesca do exterior para que assim vejamos com funciona por aí. :)

Estou atento as suas informações. :)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Administrador
Acontece que o grupo de voluntarios era formado por Mosqueiros. A elite da tropa. Porque na hierarquia de valores daqueles companheiros, o ranque mais alto é ocupado por aqueles que entendem e cuidam do rio.

Ali entao, encontrei minha turma. E quando nos encontravamos no rio para pescar eu observava e fazia perguntas. A parti dali, o meu equipamento de Spinnng ficou jogado em um canto e nunca mais foi ao rio. A eclosao, a minha, estava completa.

Não chegamos perto do trabalho realizado e mostrado no vídeo, mas também temos um grupo de mosqueiros que voluntariamente desenvolve um trabalho muito bacana para manutenção de trutas em alguns de nosso rios, mesmo sabendo que é uma ação ilegal. Por isso que não posso me estender com mais informações, mas pode me questionar por MP. ;)

T+ :)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Patrono

Legal Carlos, me interessa bastante o assunto tbem, pois tenho descendência alemã por parte de mãe e penso em conhecer a Alemanha um dia.

Quando vier à Porto Alegre fique à vontade para entrar em contato, podemos trocar umas idéias.

Abraço

Igor

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

:):):)

Carlos seja muito bem vindo!

Estou encantado com a forma como vocês administram a prática da pesca esportiva aí. Achei maneiríssimo esse manejo das ovas fertilizadas feito por vocês. Parabéns por esses esforços! Que diferença quando a atividade da nossa prática é encarada com respeito e seriedade pelas autoridades. Sonho para que isso um dia aconteça aqui também!

Carlos bem vindo mais uma vez e aguardamos com ansiedade por imagens das suas pescarias por aí!

Gde abraço.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Não chegamos perto do trabalho realizado e mostrado no vídeo, mas também temos um grupo de mosqueiros que voluntariamente desenvolve um trabalho muito bacana para manutenção de trutas em alguns de nosso rios, mesmo sabendo que é uma ação ilegal. Por isso que não posso me estender com mais informações, mas pode me questionar por MP. ;)

T+ :)

Ok, entendido. O conceito do trabalho (aqui) é elaborado, mas a execucao eh relativamente simples, porque nos recebemos as ovas já fertilizadas de piscicultores. Da nossa parte, é necessário que haja uma visita diaria às caixas, para retirar as ovas que morrem e mofam, senao contamina o resto. Mas nos revezamos nesta tarefa, assim cabe uma visita ou no maximo duas por semana para cada um.

Agora um pouco dai. Só há arco-iris, certo? Qual é a origem do ramo de arco-iris que temos: veio dos USA, ou é algum ramo obtido por tabela da Patagonia? Quando vieram ? As populacoes estao desovando no rio? Em quais meses? Tantas duvidas...

[]'s

Editado por Carlos_Mitidieri
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Boas vindas carlos. :yes:

Eu não conheço muito sobre as nossas trutas mas posso dar uma ajudinha. Conheço um rio na serra catarinense em que é feito o peixamento todo ano.
Quanto a desova, em Lages, bem como em outros municipios, temos o defeso da truta, geralmente nos meses de Junho e Julho, então imagino que elas desovem sim.

É verdade que é proibido fazer o pesque e solte na Alemanha por ser considerado mal trato aos animais? Um amigo me deu essa informação mas estou na duvida.
Se a resposta for sim, isso não deixa a preservação das trutas dificil?

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Administrador

Agora um pouco dai. Só há arco-iris, certo? Qual é a origem do ramo de arco-iris que temos: veio dos USA, ou é algum ramo obtido por tabela da Patagonia? Quando vieram ? As populacoes estao desovando no rio? Em quais meses? Tantas duvidas...

Sim somente arco íris e ao certo não sei informar sua origem, mas me foi dito que seriam da Dinamarca a primeira remessa que chegou nas serras aqui do Sudeste. Da Patagônia não há relato algum da possibilidade de terem vindo trutas de lá. Foram introduzidas nas serras do Sudeste nos anos 40 (1947~1949) e desde então várias pisciculturas continuam produzindo alevinos. Sim estão desovando nos rios onde a mata ciliar as protege, tanto que em setembro foi possível observar várias, mas não há proteção quanto aos pescadores que culturalmente praticam o pesque e mate. Não tenho conhecimento sobre o período de reprodução na natureza, mas creio ser no período do inverno. As pisciculturas aqui do Sudeste produzem alevinos em agosto e em setembro já estão juvenis.

T+ :)

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

É verdade que é proibido fazer o pesque e solte na Alemanha por ser considerado mal trato aos animais? Um amigo me deu essa informaçmas estou na duvida.

Se a resposta for sim, isso não deixa a preservação das trutas dificil?

Para estupefação do resto do mundo, é verdade, catch&release é fora da lei na Alemanha. Mas peixe é um bicho tão liso que vive escorregando da mão. Sério. :whistle:

O primeiro parágrafo da lei federal de protecao aos animais diz "a ninguém é permitido causar dor, sofrimento ou prejuizo a um animal sem um motivo razoável". O que é dor, sofrimento ou prejuizo para um peixe, e o que é um motivo razoável, são questoes cujas respostas dependem da forca dos grupos de pressao. A corrente vencedora na Alemanha é que a único motivo para se pescar é se o objetivo for alimentacao. Se este motivo nao fosse razoavel, toda a producao de ovos, leite e carne teria que ser proibida

Eu poderia escrever laudas sobre o que ja li, ouvi e penso sobre o assunto. Nao sei se é o caso de fazer isso agora. Mas vou arriscar um paragrafo. A origem deste tipo de lei vem de filosofias como a de Peter Singer (acho que ele é o mais proeminente da area de "direitos" dos animais). Devem ideias como as Peter Singer ser ignoradas por nós? Acho que nao. Nao podemos nos esconder das questoes que ele levanta. As associacoes de pesca daqui acharam que poderiam fazer isso, e deu no que deu. Além disso, é uma questao pessoal tambem, de se estar em paz com a propria consciencia.

E tens razao. Sem catch&release, e dificil manter populacoes em niveis saudaveis. A pratica mais geral aqui é o peixamento constante, pelo menos de salmonideos. E peixe de estoque, voce sabe, vem pra beira d'agua quando o pescador chega pensando que vai receber os pelets de racao. Nas nossas agua de Fly-only no Iller e no Blau, temos todos um problema nas maos, que nao conseguimos segurar os peixes direito. E gastando tanto dinheiro em equipamento, nao sobra nada pra comprar um puça. É a unica maneira de manter uma populacao natural.

[]'s

Editado por Carlos_Mitidieri
  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Fora que é mais barato ser mosqueiro que fazer terapia, especialmente depois que você gastou aqueles 30 mil reais que precisa para comprar toda tralha e material de atado :bag:

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Fora que é mais barato ser mosqueiro que fazer terapia, especialmente depois que você gastou aqueles 30 mil reais que precisa para comprar toda tralha e material de atado :bag:

Aposto que valeu mais a pena que um ano de terapia. :D

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Esses dias eu estava pensando nisso e cheguei à conclusão que daria todo o meu material de fly para o Fausto leiloar aqui no MDR para pagar meu caixão e uma viagem para a esposa (viúva, no caso) hehe :D

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Eu tenho medo que, quando eu morra, a minha esposa venda o meu material pelo preco que eu disse que custou.

Avisa ela que o forum tem uma sessão de classificados, só pra garantir. :whistle:

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Patrono

Que depoimento legal Carlos! :ok:

Seja bem vindo ao fórum Mosqueiros do Rio e trazer conhecimentos de pesca do exterior para que assim vejamos com funciona por aí. :)

Estou atento as suas informações. :)

Tá vendo o tamanho da sua contribuição Fausto?

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Patrono

Carlos,

Obrigado por participar aqui conosco. Este espaço é uma verdadeira jóia para o flyfishing.

E lógicamente você também é muito benvindo.

Editado por Mário Cardin
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Seja muito bem vindo Carlos !

Gostei demais do seu depoimento acerca da pesca na Alemanha. Explanação clara e sucinta da sua realidade local.

Informações importantes que abrem espaços e indicam possíveis caminhos para o desenvolvimento

do fly no Brasil (com ou sem o conhecimento das "autoridades").

Grato pelas informações. :bs-aplauder::bs-aplauder::bs-aplauder:

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

:):):)

Ola Carlos,

Seja bem vindo !

Bastante interessante tua narrativa e especialmente a confirmação sobre a obrigatoriedade legal do abate dos peixes capturados, sobre o que já havia lido e também com relação aos países escandinavos.
Na série de videos "The Fish & The Fly", o dinamarquês Morten Oeland nos mostra uma belíssima pescaria de trutas fário no rio Blau.
Apenas uma pergunta: existem cotas pré estabelecidas de abate por pescador em cada jornada de pesca ?

Grande abraço

Odimir

Editado por Odimir
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

As vezes eu acho que muitos países estrangeiros complicam muito a regulamentação de pesca. E falo isso como alguém que mora no Canada. No inicio eu ficava impressionado como era detalhado o sistema deles aqui, mas hoje em dia acho que podia ser bem mais simplificado. Essa historia de rio A ser uma coisa e rio B ser outra começa a dar no saco depois de um tempo, especialmente se quiser pescar no esquema faca-voce-mesmo (DIY) sem a ajuda de um guia. As vezes tenho a impressão de que tais regulamentações de pesca sao feitas de tal forma que praticamente te obrigam a contratar um guia para que nao corra o risco de cometer pesca ilegal. Algumas regulamentações de fato te obrigam a contratar um guia como e' o caso das provincias de New Foundland e Labrador para a pesca de Salmao do Atlantico. Acho um absurdo. Tudo bem colocar 0 limite de peixes para nao residentes, mas dai exigir que se contrate um guia sob a desculpa de ajudar a economia local, pra mim nao cola. Quantos pescadores que estariam gastando em fly shops, hoteis e restaurantes iriam la se nao fossem obrigados a contratar guia? Eu particularmente gosto de desvendar as coisas por mim mesmo. Nada contra guias, mas geralmente quando contrato um e' por causa do barco, para pescaria nos flats. acessar pontos distantes e tal (claro que o conhecimento tambem e' bem vindo). Os acessos publicos de pesca a salmonideos estao terminando no Norte do America. Existe um interesse muito forte dos lodges e guias de fecharem isso para eles. No proprio Amazonas temos firmas estrangeiras que vendem pacotes caríssimos para pescar em "aguas exclusivas". Quem deu a eles esse direito? Um filme que retrata muito bem isso no fly fishing e' "A Backyard in Nowhere", onde mostram guias de um lodge ameaçando um grupo de pescadores nao-residentes que estavam a pescar pike no esquema DIY no Alaska. Infelizmente gostamos de pescar e as vezes cedemos para essa exploração do esporte, como e' o caso da Avalon em Cuba (me desculpe, mas sim e' uma exploracao). Nao acho que na Alemanha seja o mesmo caso, o intuito deve ser apenas conservacao mesmo, mas acho um pouco exagerado por exemplo, ter quer reservar adiantado para a epoca de eclosoes de mayfly, perde um pouco a naturalidade da causa. As vezes voce so quer pegar seu material e arremessar num rio proximo, esta ruim vai pra outro rio e tal. Sem muita chateação, e nesse aspecto, as vezes sinto saudades de quando eu era apenas uma crianca pescando Acara no riacho da fazenda da minha avo, no Brasil.

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Oi Odimir,

A cota é associada à licenca/trecho. O ministerio da pesca (orgao estadual) estipula o maximo que pode ser abatido para cada trecho. Por licenca. Por exemplo, no cartao que eu tenho para o trecho do Jller (leia este J como i), eu poderia tirar 30 salmonideos (entre marrom, arco-iris, grayling e saibling). A regra adicional geral da associacao é que se pode abater no maximo 3 por dia/10 por mes. Se voce tirar 3 em tres dias seguidos mais 1 em outro dia do mesmo mes, voce esta bloqueado de pescar no resto daquele mes. Existe tambem tamanho minimo para cada especie. E temporada, claro. Truta comeca no dia 1 de abril e acaba no dia 30 de setembro. Grayling comeca no dia 1 de maio e termina no dia 31 de dezembro. Cada peixe abatido tem que ser registrado no cartao da licenca. É uma ofensa grave nao registrar imediatamente após a captura. O que torna caneta um equipamento obrigatorio, como priester e faca. Ai de vc se nao tiver no jaleco.

Agora, para cada trecho há um certo espaco para se definirem regras locais, que obviamente nao podem contrariar nenhuma legislacao. Quem tem autoridade para fazer estas regras locais é o arrendatario. No caso do Jller, o arrendatario e a associacao, mas nós que temos as licencas (somos 40 canicos em 6,5 km), conseguimos ter uma boa influencia sobre estas regras adicionais. Moral ganha com o trabalho voluntario. Por exemplo, o Jller é fly-only e só se pode usar anzol sem farpa, ou com farpa amassada. E como nos estamos fazendo este trabalho de re-naturalizacao da marrom, nós conseguimos passar uma regra de que no maximo 5 marrons podem ser retiradas por ano/licensa. E aumentamos os tamanhos minimos de todo mundo. Assim a gente controlou uma ou duas ovelhas negras. Outra regrinha legal é que licenca diaria so pode ser emitidas para convidados dos 40 anuaristas.

Mas nao temos nada como upstream-dry-only. :)

[]'s, e obrigado pelas boas vindas.

Editado por Carlos_Mitidieri
  • Like 2
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Administrador

Como eu ainda não havia dado as boas vindas:

Seja muito bem vindo Carlos, sinta-se à vontade (me parece que já está :)), a casa é sua. ;)

o Jller é fly-only e só se pode usar anzol sem farpa, ou com farpa amassada.

De certa forma me parece um tanto contraditório, é obrigatório o abate e só se pode pescar com anzol sem farpa (ou amassada). :wacko2:

É para prevenir as "eventuais" escapadas ou ferimentos nos peixes abaixo da medida? :huh:

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Ola, Carlos, acabei me prendendo ao conteudo do topico (legislacao de pesca) e esqueci de dar-lhe as boas vindas. Mas obviamente, ainda mais trazendo tantas novidades para a gente, seja bem vindo!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Nao acho que na Alemanha seja o mesmo caso, o intuito deve ser apenas conservacao mesmo, mas acho um pouco exagerado por exemplo, ter quer reservar adiantado para a epoca de eclosoes de mayfly, perde um pouco a naturalidade da causa. As vezes voce so quer pegar seu material e arremessar num rio proximo, esta ruim vai pra outro rio e tal. Sem muita chateação, e nesse aspecto, as vezes sinto saudades de quando eu era apenas uma crianca pescando Acara no riacho da fazenda da minha avo, no Brasil.

Bom, pensando bem, voce tem alguma razao. Eu tenho esta sensacao de sufocamento tambem. Tem dia que eu queria ir pros cafundos de Montana e nao ver ninguem sem pelo, pena ou escama (nao me desilude se nao for assim, por favor). E estou meio surpreso de saber que é assim na imensidao do Canada. No caso da Alemanha, da Europa em geral, é tudo muito escasso. Basta um pequeno deslize pra exaurir um rio. Vou falar do Jller de novo, me desculpe. Quando este trecho de que eu falo virou fly-only ha 3 anos, ele estava um deserto. E bastou tres anos de um pouco de cuidado pra coisa mudar bastante. A populacao de grayling esta se recuperando por si só, e a de marron esta no mesmo caminho com o nosso empurraozinho. Este ano ja foi possivel ver umas trutinhas de 10 15 centimetros, provavelmente nossas filhas.

No caso da epoca da Mayfly, o problema é que o referido trecho so tem 1,6 km e o arrendatario, que é uma loja de pesca aqui de Ulm, limita o numero de licencas diarias a 3. Custa só 30 euros. E acho que se pode dizer "só 30 euros" para pescar um dia inteiro em um chalk stream durante um hatch de Mayfly. E pensa só, quanta gente ia ter naquelas margens num dia daqueles, se nao houvesse nenhuma limitacao?

Sei lá. Só sei ques esta é a característica mais fundamental do mundo em que vivemos: a imperfeicao.

[]'s

Editado por Carlos_Mitidieri
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

É para prevenir as "eventuais" escapadas ou ferimentos nos peixes abaixo da medida? :huh:

Correto.

Dando uma melhorada nesta resposta, anzol BL é uma regra local, feita por no intuito de preservar a os peixes que estao abaixo do minimo, ou que sao pescados fora da sua época. Por exemplo, agora ainda se pode ir no grayling, mas qualquer truta, de qualquer tamanho, tem ser devolvida, obrigatoriamente. Tambem escapa muita.

Anzol sem farpa é muito importante. Garatéia é uma barbárie. Duas, um instrumento de tortura medieval.

Editado por Carlos_Mitidieri
  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

:):):)

Carlos,

Obrigado por responder de maneira tão completa a minha pergunta !
Como este tópico se tornou tão interessante e estamos todos aprendendo com ele, tomo a liberdade de formular mais algumas perguntas, tecendo previamente algumas considerações ainda que superficiais.
- Como sabemos, para fazermos peixamentos, é importante conhecermos a capacidade de sustentação desse ambiente conhecida como "Capacidade de Carga Ambiental", além da qual os peixes morrerão por falta de alimento e competição por ele, ocorrendo mesmo o canibalismo dentro da própria espécie.
- Sabemos também que no período compreendido entre um a dois anos de idade as trutas assumem uma estratégia migratória, buscando um rio de maior caudal, um lago/lagoa, ou até o oceano.
Uns poucos indivíduos permanecem no lugar de nascimento ou imediações.
Uma população de trutas é formada por indivíduos de diversas idades e tamanhos e o índice de mortandade é muito grande nos indivíduos de menor idade, sendo que uns poucos chegam a tamanhos e idades mais avançadas.
A população de peixes de um determinado ambiente é composta por indivíduos de diversas idades e tamanhos, o que é chamado de "parâmetro populacional".
Uma vez que existem cotas de abate por tamanho, como e quem faz o controle e monitoramento dos estoque pesqueiros e dos parâmetro populacionais.

Abraços

Odimir

  • Like 1
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Mosqueiro

Bom, pensando bem, voce tem alguma razao. Eu tenho esta sensacao de sufocamento tambem. Tem dia que eu queria ir pros cafundos de Montana e nao ver ninguem sem pelo, pena ou escama (nao me desilude se nao for assim, por favor). E estou meio surpreso de saber que é assim na imensidao do Canada. No caso da Alemanha, da Europa em geral, é tudo muito escasso. Basta um pequeno deslize pra exaurir um rio. Vou falar do Jller de novo, me desculpe. Quando este trecho de que eu falo virou fly-only ha 3 anos, ele estava um deserto. E bastou tres anos de um pouco de cuidado pra coisa mudar bastante. A populacao de grayling esta se recuperando por si só, e a de marron esta no mesmo caminho com o nosso empurraozinho. Este ano ja foi possivel ver umas trutinhas de 10 15 centimetros, provavelmente nossas filhas.

No caso da epoca da Mayfly, o problema é que o referido trecho so tem 1,6 km e o arrendatario, que é uma loja de pesca aqui de Ulm, limita o numero de licencas diarias a 3. Custa só 30 euros. E acho que se pode dizer "só 30 euros" para pescar um dia inteiro em um chalk stream durante um hatch de Mayfly. E pensa só, quanta gente ia ter naquelas margens num dia daqueles, se nao houvesse nenhuma limitacao?

Sei lá. Só sei ques esta é a característica mais fundamental do mundo em que vivemos: a imperfeicao.

[]'s

Bom, ainda ha bastante espacos publicos para se pescar aqui no Canada (don't get me wrong rsrsrs), e os pontos aos quais me referi sao considerados alguns dos melhores pontos do mundo da pesca de Salmao do Atlantico (na Costa Leste) e Steelhead (na costa Oeste). E' claro que a pressao aumenta perto das cidades, mas ha muitos cantos escondidos. Apesar da complicacao e as regras de "aguas classificadas" na Columbia Britania (classified waters), ainda pude fazer uma pescaria dos sonhos de Steelhead, sem guia, total DIY, cujo relato esta aqui no forum. Ainda ha muito o que se explorar aqui no Canada e certamente aguas menos exploradas que a Alemanha. So acho que podia ser um pouco mais facil ao visitante. No caso da COlumbia Britanica especificamente, o problema era com guias americanos que levavam seus barcos de Washington para la e concorriam com guias locais. Dai estabeleceu-se uma regra que limita muito acesso publico `a nao residentes nos fins de semana em afluentes do Skeena River (talves o rio com o maior numero de Steelhead selvagens do mundo, sem falar do porte...). Quem e' residente claro que apoia, e eu mesmo sendo residente de Ontario possuo melhor acesso que nao-canadenses (deveria favorecer localismo rsrsrs), mas acho um pouco injusto, uma vez que pode-se ir nos EUA e pescar os melhores rios de Steelhead em Idaho, Washington e Oregon sem esse tipo de limitacao... Bom, felizmente ainda ha algo, temo pelas proprias geracoes. De fato, se nao conservarmos agora, acabara tudo. No Brasil bastava cortar o arrasto e limitar o numero de pescado, que certamente seriamos um dos maiores destinos de pesca do mundo (e somos, a exemplo do Amazonas e pescaria de alto-mar).

Espero um dia pode-lo visitar ai na Alemanha. De fato pegar uma brown em seu habitat original, uma legitima German Trout, seria fantastico.

Abs!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

"Willkommen" !... ou... "Herzlich Willkommen"! ? ( Bem vindo !! )

Oi Ilza, achei que estava devendo um agradecimento pessoal pra mais calorosa das boas vindas no forum. E aproveito para desejar mehoras ao teu esposo.

Vielen, herzlichen, Dank!

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

Espero um dia pode-lo visitar ai na Alemanha. De fato pegar uma brown em seu habitat original, uma legitima German Trout, seria fantastico.

:) Be my guest. Steelhead é um sonho pra mim. É também uma outra cultura do Fly, do canico de duas maos no sabor Skagit. Uma galera meio selvagem, nao é nao?

[]'s

Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

  • Moderador

:):):)

Carlos,

Obrigado por responder de maneira tão completa a minha pergunta !

Como este tópico se tornou tão interessante e estamos todos aprendendo com ele, tomo a liberdade de formular mais algumas perguntas, tecendo previamente algumas considerações ainda que superficiais.

- Como sabemos, para fazermos peixamentos, é importante conhecermos a capacidade de sustentação desse ambiente conhecida como "Capacidade de Carga Ambiental", além da qual os peixes morrerão por falta de alimento e competição por ele, ocorrendo mesmo o canibalismo dentro da própria espécie.

- Sabemos também que no período compreendido entre um a dois anos de idade as trutas assumem uma estratégia migratória, buscando um rio de maior caudal, um lago/lagoa, ou até o oceano.

Uns poucos indivíduos permanecem no lugar de nascimento ou imediações.

Uma população de trutas é formada por indivíduos de diversas idades e tamanhos e o índice de mortandade é muito grande nos indivíduos de menor idade, sendo que uns poucos chegam a tamanhos e idades mais avançadas.

A população de peixes de um determinado ambiente é composta por indivíduos de diversas idades e tamanhos, o que é chamado de "parâmetro populacional".

Uma vez que existem cotas de abate por tamanho, como e quem faz o controle e monitoramento dos estoque pesqueiros e dos parâmetro populacionais.

Bah, dá falar horas sem chegar a uma conclusao, porque cada um vai ter a sua opiniao.

A secretaria estadual de meio ambiente avalia cada agua periodicamente. Eles fazem uma amostragem da distribuicao de especies, e da distribuicao de tamanhos por especie. Veja um exemplo do relatorio

publico no anexo. Os arrendatarios entregam um relatorio anual para a secretaria, constando os peixamentos realizados, junto com a soma das capturas (computada dos cartoes de licencas), por trecho no periodo. Os tecnicos da secretaria avaliam tudo, e fazem sugestoes de manejo para os arrendatarios, que podem ser seguidas ou nao. Em geral, os arrendatarios tem uma boa margem de manobra.

Bom, a filosofia do manejo varia. Eu assim como a maioria, acredito, é pela construcao de uma distribuicao piramidal intra- e inter-especies. Ou seja, a base da piramide é ocupada por um milharal de alevinos, e o topo por uns poucos troféus. E tem que ter mais individuos das especies de peixe que sao predadas, do que as que sao predadoras. O que faz dos meios tradicionais de peixamento algo menos do que o ideal.

Como estabelecer o tamanho de abate? Depende. Minha opiniao:

Se a piramide esta bem construída, a melhor abordagem é ceifar no topo. Porque tem uma quantidade tao grande pedindo passagem no nivel de baixo, que o estoque é reposto no descanso da temporada. Esta estrategia se baseia tambem na informacao que eu ja ouvi de piscicultores (em cujo meio há controversias tambem) de que os melhores reprodutores estao no centro-avante da piramide. Em principio, cada individuo apto deveria ter a chance de se reproduzir pelos menos uma vez na vida, no minimo.

Se a piramide nao é uma piramide, bom, ai tem o caso tem que ser analisado a parte.

A equacao tem mais uma incógnita: a distribuicao dos territorios de desova, "bercario", caça e abrigo. Aqui, a tendencia geral na Europa é a re-naturalizaco dos rios, que foram todos canalizados nos anos 60 e 70 para evitar enchentes. E os campeoes nesta modalidade sao os ingleses. Vide http://wildtrout.org

Aqui no Jller (de novo), temos a incubacao e um peixamento anual com adultos de marron e arco-iris 1 vez por ano. Grayling se mantém, e esta aumentando por si só, em numero e tamanho médio, porque a pressao sobre eles é bastante "aliviada". Como sabemos que está aumentando? Por uma estatistica informal de solturas. A marrom também esta sendo "aliviada". Sobra um pouco mais pra arco-iris. A estatistica informal mostra tambem uma piramide exemplar pro Grayling e ainda sofrida para a marrom, mas com melhoras sensiveis.

Quanto à migracoes, é outra estória comprida. Em principio, todo salmonideo sobe o rio para desovar. Eles tem que fazer isso parte da preparacao. Mas a variedade de rio da marrom e o grayling fazem migracoes bem mais curtas do que a gente imagina. Alguns poucos 4 ou 5 quilometros sao suficientes. A arco-iris tende a rodar mais. O nosso grayling passa o verao no Donau, e sobe em outubro, permacendo até abril. A marrom adulta é territorial. A arco-iris é andadrilha.

Se ninguém pedir minha expulsao sob acusacao de chatice aguda, continua...

Iller_Wiblingen_IL007_2322_120530.pdf

  • Like 2
Link para o comentário
Compartilhar em outros sites

Participe da conversa

Você pode postar agora e se registrar mais tarde. Se você tem uma conta, faça seu login agora mesmo para postar com sua conta

Visitante
Responder a este tópico...

×   Você colou conteúdo com formatação.   Remover formatação

  Apenas 75 emoji são permitidos.

×   Your link has been automatically embedded.   Display as a link instead

×   Your previous content has been restored.   Clear editor

×   You cannot paste images directly. Upload or insert images from URL.

×
×
  • Criar Novo...

Informação importante

Ao usar este site, você concorda com nossos {termos}.