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Alcançando objetivos na pesca com mosca


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  • Mosqueiro

Na segunda década desse novo milênio, eu não sei se houve alguma movimentação dos astros, se o universo conspirou ou qualquer outra coisa, mas minha vida de pescador prático parou. No campo teorico continuo atuante, fiz da pescaria uma atividade indoor e subjetiva, resumindo-se em navegar na internet e atar.

Há dois meses, reuni forças e num movimento explosivo me pus para fora de casa e na beira de um rio proximo da cidade do Rio de Janeiro (150km). Desde lá, foram dias de muita animação e aprendizado, em que fui repetidas vezes ao mesmo trecho do mesmo rio, subia e descia o regato, sempre só e sem preocupações com horário ou com a captura de peixes. Com todo esse desprendimento por produtividade, me concentrei em praticar o que li na net, como apresentação das moscas secas, as técnicas na utilização de ninfas. Eu era feliz só de ver a linha vagarosamente desenrolar-se no ar e depois, a mosquinha derivando no poção de água cristalina, nem fazia questão que as pirapitingas-do-sul subissem para atacar meu engenho.

Foram bastantes dias usando quase que exclusivamente moscas secas e ninfas, só colocava um streamer no apagar das luzes para deixar um cheirinho de peixe nas mãos. As saicangas nunca faltaram comigo.

Hoje posso dizer que sou um péssimo atador de moscas secas e um pescador que não sabe usar uma mosca seca ou uma ninfa. Minhas moscas secas afundavam após a derivada, na hora do pick up, mesmo quando usei o rollcast, ocorria o inevitável mergulho do atado e o consequente encharcamento do mesmo. No caso das ninfas havia uma total falta de contato, eu nem sabia onde estava a minha isca, o peixe podia tomá-la e cuspi-la que eu nem perceberia. Disso tirei algumas lições e consigo vislumbrar uma possível correção, mas muita coisa nebulosa me assombra ainda hoje.

Pois bem, depois de muitas idas ao riacho, consegui perceber o que fazer para fisgar minha brycon na superfície: enchi minha caixa de hawainas (gafanhotos, chernobil, etc), de pelos só a Madame-X e a elk hair caddis, que sozinhas naquele mar de borracha sofreram bullying.

Em um fim de tarde, de um dia qualquer, no início de uma grande corredeira, coloquei um gafanhoto para navegar. Arremessei-o, perpendicularmente à corredeira, três metros acima, a água era lisa como em um lago, o gafanhoto seguia rio abaixo em marcha reduzida. Tudo estava perfeito, com água nas canelas, podia ver a estrutura sobre a qual pairava o inseto artificial, sem muita clareza, pois o sol já se punha, via muitas pedras redondas, pequenas e médias, e ainda um vulto de um tronco no profundo e escuro canal, com dois metros de coluna d'água, que perdia profundidade à medida em que se aproximava da corredeira, na metade do caminho a ser percorrido, a profundidade diminui continuamente, delicadíssimas ondulações são formadas pelo fluxo da água através das pedras, que estão mais próximas da superfície, a velocidade da marcha aumenta sensivelmente, mas ainda há todo um ar lacustre, que se perderá de vez, em seu quarto final, onde o rio não possui mais que trinta centímetros de profundidade, logo após começa a corredeira.

Nesse cenário, o gafanhoto seguia a assustadora viagem e para mim, naquele momento, o mundo se resumia àquele deslocamento, todos os sentidos postos no pequeno pedaço de derivado de petróleo de cor verde. A pequena peça percorre toda a zona profunda, começa a entrar na parte mais rasa, mal começa a brincar nas ondulações e é tomada por uma força bruta que quebra a calma do lago e me devolve à realidade. Fisgo, violentamente, com a linha, o peixe faz força e luta para se livrar, não sei direito o que fazer, não estava preparado para capturar nada, não sei se arranco o peixe da água, se curto a briga. Após boa briga, onde o peixe não permitiu ser rebocado, como era de minha vontade, chegou até mim a bela pirapitinga-do-sul, um dos meus objetivos na pesca com mosca.

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Após a liberação, novo arremesso e o resto: idem. A diferença foi que o peixe escapou. Torno a arremessar dessa vez a mosca passa e vai até o final da corredeira. Fiquei com vontade de pegar uma pirapitinga em uma seca classica, atei uma mosca com um belo colar, mas me enrolei todo para fazer a apresentação e encharquei a mosquinha. Voltei para o gafanhoto e no primeiro arremesso tive outra ação, na batida, essa nem encostou na mosca, errou por muito. Na continuação da deriva, recebeu outro ataque, consegui fisgar o animal e trazê-lo.

Em seguida fiz um back cast com mosca e um foward cast sem ela, que ficou presa no mato e eu não encontrei mais. Tentei com outros tipos de terrestrials e só consegui ter ação com uma aranha. Quando eu fisguei a linha afrouxou. Foi um corte perfeito. Dei-me por satisfeito e fui embora. Essa aranha abriu a minha mente e me proporcionou o material para escrever a continuação dessa anedota.

Continua outrora, pois já são quase cinco horas da manhã

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  • Mosqueiro

Boa, Beto! Estive ali, acompanhando em silêncio sua saga. E que susto danado deu o ataque da pirapitinga ao pobre gafanhoto...

Creio que transportará a todos para o mesmo trecho de rio com sua ótima narrativa.

Abração.

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  • Mosqueiro

Ótimo texto!!!!!!!!!! estive acompanhando a deriva do pobre gafanhoto também!!!!!!!!!!!!!

Abração e linhas tensas!!!!

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  • Mosqueiro

Bacana ver relatos tão bem narrados como o seu.

Pesca com mosca é um eterno aprendisado, e aos poucos o amigo esta aprendendo como lidar com a situação de pesca.

O pessoal da "GoFly" tem bastante matéria sobre as pirapitingas em seu blog, e também várias receitas de moscas para este peixe, se ainda não viu,vale a pena dar uma olhada.

Abraços e fico no aguardo da continuação do relato.

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