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Robalinhos na Lagoa de Marapendi


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  • Mosqueiro

27 de Janeiro de 2019:

Dessa vez eu resolvi pescar na lagoa que é sempre notícia de desastre natural, franca produtora de gigogas, destino mais que certo de todo cocô da Barra da TIjuca e Jacarepaguá: Lagoa de Marapendi.
Eu já havia pescado nessa lagoa lá pela década de 90, acredito que muitos nesse fórum também já tenham pescado por lá. Naquele tempo tinha bastante gente começando nas iscas artificiais e muita gente pescando com equipamento ultralight, o pessoal desbravava qualquer poça d'água, não tinha local no RJ que o pessoal não pescasse. Foi uma época muito legal, mais ou menos parecido com o que vem acontecendo com o fly nos dias de hoje, porém com um volume bem maior, o fly é um pouco mais restritivo. Pela altura da praia da reserva, havia algumas trilhas que permitiam o acesso à lagoa,nesses locais era possível fazer ótimas pescarias de robalo, mas se pegava de tudo: ubarana, acará, xareuzinho, peixe agulha e outros, contudo, no tempo presente,  já não era razoável acreditar que existisse alguma vida naquela lagoa que perecia diante a ocupação desordenada, do assoreamento e do despejo de esgoto em níveis cavalares. Parecia se tratar de uma lagoa totalmente morta. Com a exceção de uma ou outra tilápia e dos inatingíveis barrigudinhos nada mais parecia sobreviver àquelas águas mornas, embaçadas e mal cheirosas. Todo cardume que se aventurasse um pouco mais longe da foz tinha a morte como destino, especialmente nos dias mais quentes.

 Eis que, contrariando toda a minha certeza, começou a surgir na internet uma série de vídeos relatando pescarias fantásticas de robalos em uma das zonas mais podres do referido corpo lacustre: a região do campo de golfe olímpico. Coisas como cinquenta ações em um único braço de mangue eram constantemente relatados, peixes de quilo não eram incomuns e, mais raramente, capturavam-se alguns troféus - tudo na superfície!

Ao assistir aos vídeos comecei a perceber que aquele ambiente era ideal para a pesca com mosca e em determinada tarde de domingo parti para o cais da rua Gal. Moisés Castelo Branco para tentar chegar ao parque de diversões dos caiaqueiros. Quando cheguei ao ponto de partida já estava bem tarde para iniciar uma pescaria de caiaque em um local totalmente desconhecido. A luz já ostentava um leve tom amarelado, que é o prenúncio do final do dia. O ímpeto de desbravar o pântano começava a convolar-se em reticência.
Em uma daquelas jogadas da sorte, eis que surge de dentro da pequena trilha um pescador que estava entrando na lagoa com seu caiaque, quando viu meu caiaque sobre o carro veio de pronto me dar todas as coordenadas para colocar o barquinho n'água. A animação voltou com tudo.
O dia estava insuportavelmente quente e o vento não penetrava aquele emaranhado de mangues. A superfície lisa daquela água morna refletia com extrema intensidade a luz do sol, era como se tivesse um sol acima de mim e outro abaixo. Para piorar, nos dois dias anteriores havia chovido muito, o que deu uma mexida no fundo da lagoa e levou bastante matéria orgânica para o seu interior. Para onde se olhava era possível ver uma dúzia de tilápias mortas boiando. Diante da cena, concluí: se as tilápias estão morrendo devido às condições do ambiente, imagina o que deve ter acontecido com os coitados dos robalos. 

Mesmo com o pessimismo rondando a minha pescaria, prossegui com o projeto. Tudo pronto, caiaques na água, saímos remando. Sequer avançamos vinte metros e o colega entra no meio do mangue, por uma passagem estreita que estava à direita, era invisível para quem olhava de fora sem a devida atenção. Essa passagem nos levou a uma espécie de corixo mal cheiroso e de águas negras, dentro dele mais uma passagem estreita pelas árvores e mais uma série de transposições desta natureza foram feitas e atras de cada manguezal descortinava-se um lindo cenário,com uma flora e fauna belíssimas, porém a podridão ostensiva impedia que a experiência fosse agradável.

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O local é um labirinto, na segunda curva que fiz já não sabia como voltar para o cais de onde tinha saído. Passei por diversos pools, todos muito parecidos, que foram devidamente ignorados pelo meu guia de ocasião, porém, do nada, diante de um pool, que não parecia se diferenciar de todos os outros por quais passamos, ele parou e disse que aquele era o point.
 Ele tinha toda a razão, lançou seu stick no meio do nada, bem distante de qualquer estrutura, veio trabalhando-o como se estivesse zarando para pegar tucunaré, com um nível de energia que não é comum ver nas pescarias de robalo, e logo no primeiro arremesso três ataques ao seu stick. O peixes vinham enlouquecidos à semelhança de um tucunaré. O segundo arremesso foi exatamente no mesmo local que o primeiro e os peixes atacaram novamente. Foram tantos arremessos no mesmo local, que, devido ao trabalho enérgico do stick e à poluição, se formou um belo rastro permanente de espuma. Mesmo diante de toda a balburdia, de tantos peixes ferrados, da insistência insana no mesmo ponto de pesca; os robalos não paravam de atacar, os peixes demonstravam um comportamento que eu nunca tinha presenciado. Por duas vezes foram ferrados dublês no stick, impressionante!
Enquanto no bait a festa rolava solta, Eu estava dando minhas chicotadas na água sem ter sequer um centésimo daquela atividade. Comecei com um streamer branco de craftfur, troquei por uma ep baitfish e só tive um ou dois  beliscões na mosca, sem sequer triscas na ponta do anzol. Quando percebi que o bicho gostava de barulho tratei de colocar um popper. O amigo baiteiro seguiu tendo muitas ações e fisgando muitos robalinhos, enquanto eu amargava uma lavada, passado um bom tempo com o popper eu só tinha tomado uma pancadinha de nada. O dia prosseguiu dessa maneira, a cada arremesso do bait os robalos se jogavam com vontade contra a isca, enquanto na mosca era necessário dar uma poppada forte, esperar dez segundos, dar outra poppada forte, para, só assim, tomar umas pancadinhas isoladas de uns baby robalos. Esse tal de fly é para masoquistas. De todos os poucos ataques ao popper, somente um rendeu uma captura, um robalinho miúdo que engoliu o popper.

 

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Depois de umas duas horas tomando isca na cabeça, os robalos deram uma sumida e o meu colega foi procurá-los em outro ponto. Sem o choc choc frenético no ponto de pesca a fazer concorrência com as minhas pobres mosquinhas, tudo foi ficando mais tranquilo e propício ao fly, os robalos começaram a se interessar mais pela mosca e houve um incremento das pancadas no popper, mas o peixe não se fisgava. Para tentar fisgar os robalinhos troquei o popper por uma ep baitfish preta e roxa e passei a arremessar próximo a vegetação. Já no primeiro arremesso tive ação, mas não houve fisgada, o peixe parecia morder somente os pelos da mosca. Fiz mais um arremesso e novamente aquela sensação de alguém estava segurando a mosca, seguido de um cutucão.  Mais alguns arremessos foram feitos e em quase todos o mesmo padrão se repetia, até que um deles foi com mais fome ao pote e engoliu a mosca, um flechinha mais gordinho. Eis que volta o baiteiro para continuar a sua brincadeira. Depois disso tive algumas ações, mas mais nenhuma captura aconteceu.

 

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O lugar é realmente impressionante, possui uma população pesada de robalos flecha de todos os tamanhos, tem robalão, tem robalo, mas o grosso é de robaletes que atacam as iscas com muita violência. Praticamente não existem robalos peva. É inacreditável que os robalos fiquem tão ativos naquela água quente e sem oxigênio. Os locais mais fundos tinham cerca de 1m a 1,2m de profundidade. Por todos os lados que eu naveguei havia tilápias mortas, morrendo ou em situação difícil. A situação era tão desfavorável, que embaixo do meu caiaque ficavam meia dúzia de tilápias aproveitando a sombra gerada por ele.
Na hora de voltar seguimos por um caminho mais aberto e direto, contornando o labirinto de mangue por fora. Foi então que descobri o motivo dos caiaqueiros usarem o caminho mais complicado. A lagoa sofre com um absurdo assoreamento e em vários pontos existem bancos de sedimentos onde a água varia de 5 a 15cm de profundidade. Quando o caiaque entra nesses bancos a coisa fica complicada, é necessário fazer muita força para se livrar deles, remar mais dez metros e cair em outro banco de sedimentos, é algo meio desesperador pensar na necessidade de descer do caiaque para empurrá-lo naquela lama podre. Para nossa sorte estávamos perto de um canal de balsa, que faz embarque no cais de onde saímos. Quando a balsa passou entramos no canal e seguimos seu caminho sem atolar.
Foi uma boa experiência, que penso em repetir algum dia, mas por enquanto ainda está presente a náusea de toda feiura que é necessário enfrentar para aproveitar esse improvável pesqueiro. O tempo ainda não conseguiu apagar a má impressão que eu criei. Talvez se eu tivesse pegado cinquenta robalos, tivesse um pouco mais de carinho pelo lugar.

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  • Administrador
6 horas atrás, Beto disse:

Quando o caiaque entra nesses bancos a coisa fica complicada, é necessário fazer muita força para se livrar deles, remar mais dez metros e cair em outro banco de sedimentos, é algo meio desesperador pensar na necessidade de descer do caiaque para empurrá-lo naquela lama podre.

Fico imaginando o sufoco que passou para se ver livre dessa situação.  :(

 

6 horas atrás, Beto disse:

O lugar é realmente impressionante, possui uma população pesada de robalos flecha de todos os tamanhos, tem robalão, tem robalo, mas o grosso é de robaletes que atacam as iscas com muita violência. Praticamente não existem robalos peva. É inacreditável que os robalos fiquem tão ativos naquela água quente e sem oxigênio. Os locais mais fundos tinham cerca de 1m a 1,2m de profundidade.

Supresso aqui em tomar conhecimento de atividade assim num local tão poluído, esses bichos são mais resistentes do que imaginava, era para ser impossível viver lá. :mellow:

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  • Administrador

Que pena, esse relato poderia ser muito mais prazeroso de se ler, se houvesse real preocupação em reestabelecer a vida desse bioma. :( 

 

Temos um potencial pesqueiro enorme em nosso litoral que além de tudo é lindo e não temos nem de longe a frequência de relatos que poderíamos ter. 

 

Tive algumas experiências parecidas aqui em Niterói na lagoa de Itaipú, local onde outrora pescava-se muitos robalos, ubaranas, xeretes, xaréus, savelhas, xixarros, guaiviras, corvinas e uma infinidade de outras espécies, até cações eu vi naquela lagoa, passando a poucos metros de distância de mim enquanto eu caminhava nos últimos minutos da vazante para pegar camarões e siria com um puçá de mão. Hoje em dia a lagoa e o canal que divide Itaipú e Camboinhas está totalmente assoreado e poluído.

 

Ainda que tivesse peixe em abundância, pescar em um lugar poluído desse jeito definitivamente não me atrai.

 

Uma tristeza, pois temos um quintal maravilhoso que mesmo poluído ainda é cheio de vida. Imagine o que poderia ser se fosse preservado e limpo. 😕 

 

Parabéns pelo espírito aventureiro e pela perseverança Beto, uma pena que a experiência não tenha sido agradável e prazerosa. 

 

Grande Abraço ;) 

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  • Mosqueiro

Só você mesmo, Beto, pra encarar um PDI desses. Parabéns pela coragem; valeu o esforço pra sabermos que ainda há vida lá. Por outro lado, só dá mais desgosto esse tipo de constatação, cada vez mais frequente e corriqueiro.

Grande abraço.

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  • Mosqueiro
Em 09/05/2019 at 08:53, André Ribeiro disse:

Que pena, esse relato poderia ser muito mais prazeroso de se ler, se houvesse real preocupação em reestabelecer a vida desse bioma. :( 

 

Temos um potencial pesqueiro enorme em nosso litoral que além de tudo é lindo e não temos nem de longe a frequência de relatos que poderíamos ter. 

 

Tive algumas experiências parecidas aqui em Niterói na lagoa de Itaipú, local onde outrora pescava-se muitos robalos, ubaranas, xeretes, xaréus, savelhas, xixarros, guaiviras, corvinas e uma infinidade de outras espécies, até cações eu vi naquela lagoa, passando a poucos metros de distância de mim enquanto eu caminhava nos últimos minutos da vazante para pegar camarões e siria com um puçá de mão. Hoje em dia a lagoa e o canal que divide Itaipú e Camboinhas está totalmente assoreado e poluído.

 

Ainda que tivesse peixe em abundância, pescar em um lugar poluído desse jeito definitivamente não me atrai.

 

Uma tristeza, pois temos um quintal maravilhoso que mesmo poluído ainda é cheio de vida. Imagine o que poderia ser se fosse preservado e limpo. 😕 

 

Parabéns pelo espírito aventureiro e pela perseverança Beto, uma pena que a experiência não tenha sido agradável e prazerosa. 

 

Grande Abraço ;) 


Eu sou testemunha da destruição da lagoa de itaipu. Era o point de final de semana da minha família na década de 80.
Além dos camarões e siris, havia muito vôngole e tarioba (concha semelhante ao mexilhão, porém vive na areia). Também havia muitos linguadinhos, cardumes enormes que meu Pai empurrava para a praia e, num golpe, lançava alguns na areia. Hoje em dia é um verdadeiro deserto de peixes.

É bem como você disse, no final da vazante a água ficava muito rasa próximo a saída da lagoa e era normal ver uns peixes maiores. No início do canal sempre ficava um monte de peixes esperando a comida que a maré empurrava para fora da lagoa e que era afunilada naquele ponto. Dava para fazer uma pescaria estilo pescaria nos flats hehehe.

Editado por Beto
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  • Mosqueiro
Em 09/05/2019 at 11:04, Fred Mancen disse:

Só você mesmo, Beto, pra encarar um PDI desses. Parabéns pela coragem; valeu o esforço pra sabermos que ainda há vida lá. Por outro lado, só dá mais desgosto esse tipo de constatação, cada vez mais frequente e corriqueiro.

Grande abraço.

 

Rapaz nem me lembra dos tempos do PDI, eu estou igual um gato castrado, só no sofá engordando kkkkk. Tá difícil juntar um pouquinho de vontade de pescar para conseguir sair da frente da TV. 

É uma pena mesmo que a situação ali seja tão grave, se fosse uma coisa aceitável eu não sairia de lá, é um lugar ideal para a pesca com mosca.

 

 

   

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  • Administrador
52 minutos atrás, Beto disse:


Eu sou testemunha da destruição da lagoa de itaipu. Era o point de final de semana da minha família na década de 80.
Além dos camarões e siris, havia muito vôngole e tarioba (concha semelhante ao mexilhão, porém vive na areia). Também havia muitos linguadinhos, cardumes enormes que meu Pai empurrava para a praia e, num golpe, lançava alguns na areia. Hoje em dia é um verdadeiro deserto de peixes.

É bem como você disse, no final da vazante a água ficava muito rasa próximo a saída da lagoa e era normal ver uns peixes maiores. No início do canal sempre ficava um monte de peixes esperando a comida que a maré empurrava para fora da lagoa e que era afunilada naquele ponto. Dava para fazer uma pescaria estilo pescaria nos flats hehehe.

 

Me lembro de uma vez que estava no canal com o puçá nas mãos, caminhando no sentido do mar, a maré era enchente e a água estava clara. Eu estava próximo da margem direta, pois nessa época o meio do canal era fundo e tive a impressão, com a visão lateral, de que uma “pedra” me acompanhava, depois da terceira olhada, me aproximei da “pedra” e consegui ver que se tratava de um cardume de uns 100 robalos tão próximos uns dos outros que pareciam um só organismo nadando contra a corrente.

 

Me lembro também do meu pai e de outros pescadores que ficavam de cima dos molhes arremessando pra dentro do canal. Fisgavam vários peixes, foi lá que vi meu pai pegar a maior corvina da vida dele.

 

Foram essas lembranças que me motivaram a tentar voltar com material de mosca, justamente buscando algo mais próximo a uma pescaria nos flats. Em uma dessas vezes fui com o Boss, o Jost e o Neumann, mas infelizmente não tivemos sucesso. :( 

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  • Mosqueiro

Meus parabéns pelo lindo relato, @Beto, mesmo com toda sujeira e maus tratos a querida Lagoa de Marapendi, o teu relato transmitiu a emoção de se estar pescando em um aquário de robaletes. A ação do homem nessa região é cruel, lembro que nos anos 80's aquela água era azul e saltavam muitas taínhas lá dentro; hoje restam a lembrança ao ver a desolação de quem já fez boas pescarias ali, um dia. Qualquer dia, farei uma visita a essa lagoa, e, tomara que eu consiga filmar uma boa pescaria também. Um grande abraço!

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  • 1 mês depois...
  • Mosqueiro

Olá, Beto!

Atualmente antro muito pouco em fóruns de pesca. Mas, passando por aqui, seu relato chamou minha atenção. O li e reli com muita tristeza e com uma quase certeza que nosso sistema lagunar jamais será recuperado.

Estou com 63 anos e pescava em todas as lagoas da orla da Barra e do Recreio desde os 12 anos, ou seja, meio século atrás. Não é preciso dizer nada para você imaginar como era aquilo. Mas até meados dos anos 80 e, até mesmo início dos 90 - 30 anos atrás - as águas ainda eram razoavelmente limpas e ainda havia peixes e crustáceos, embora esses últimos já se encontrassem em franco declínio.

E hoje é exatamente o que você descreveu com muita propriedade: um pântano lamacento e fedorento, onde esses peixes ainda sobrevivem por muita teimosia pela vida. 

Moro no Recreio há 30 anos e ao andar de bicicleta pela ciclovia da Reserva, junto à Lagoa, lembro com saudades desse quintal onde - juntamente com a Pedra da Macumba, do Roncador e Grumari - passei grandes momentos, desde a adolescência, pescando robalos, de todos os tamanhos, em uma época onde fotografávamos muito pouco e, evidentemente, não soltávamos nada! Mas que época feliz!

Assim como você, mesmo morando a uma distância a pé ou de bike de vários pontos da lagoa, não me animo nem um pouco. Mesmo na praia aqui em frente de casa, onde as águas ainda são muito limpas - mas tem pouco peixe - somente esporadicamente vou pescar uns papa-terras e carapicus para comer frito.

Não tenho muita esperança para a pesca no Brasil. A cada dia - independentemente do lugar; pode ser Amazônia, Minas Gerais, Pantanal, de todos os lugares - apenas encontro relatos dando conta de que já foi bom, de que era limpo, de que se pescavam peixes de tamanho fabuloso, de que os lugares eram lindos.

Observo que, a cada dia, temos que ir mais longe - e pagar mais caro (devido à raridade) - para poder pescar em águas transparentes e ainda repletas de vida. E, quem puder realizar seus sonhos, que os faça logo, pois os paraísos estão terminando!

Um grande abraço e parabéns por seu relato/artigo, que mesmo triste, me incentivou a escrever e, lá bem no fundo, despertar um fio de esperança, ao saber dos robalinhos lutando pela vida.

Abraços

Tio Luiz

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  • Mosqueiro
Em 18/06/2019 at 16:25, Luiz Almeida disse:

Olá, Beto!

Atualmente antro muito pouco em fóruns de pesca. Mas, passando por aqui, seu relato chamou minha atenção. O li e reli com muita tristeza e com uma quase certeza que nosso sistema lagunar jamais será recuperado.

Estou com 63 anos e pescava em todas as lagoas da orla da Barra e do Recreio desde os 12 anos, ou seja, meio século atrás. Não é preciso dizer nada para você imaginar como era aquilo. Mas até meados dos anos 80 e, até mesmo início dos 90 - 30 anos atrás - as águas ainda eram razoavelmente limpas e ainda havia peixes e crustáceos, embora esses últimos já se encontrassem em franco declínio.

E hoje é exatamente o que você descreveu com muita propriedade: um pântano lamacento e fedorento, onde esses peixes ainda sobrevivem por muita teimosia pela vida. 

Moro no Recreio há 30 anos e ao andar de bicicleta pela ciclovia da Reserva, junto à Lagoa, lembro com saudades desse quintal onde - juntamente com a Pedra da Macumba, do Roncador e Grumari - passei grandes momentos, desde a adolescência, pescando robalos, de todos os tamanhos, em uma época onde fotografávamos muito pouco e, evidentemente, não soltávamos nada! Mas que época feliz!

Assim como você, mesmo morando a uma distância a pé ou de bike de vários pontos da lagoa, não me animo nem um pouco. Mesmo na praia aqui em frente de casa, onde as águas ainda são muito limpas - mas tem pouco peixe - somente esporadicamente vou pescar uns papa-terras e carapicus para comer frito.

Não tenho muita esperança para a pesca no Brasil. A cada dia - independentemente do lugar; pode ser Amazônia, Minas Gerais, Pantanal, de todos os lugares - apenas encontro relatos dando conta de que já foi bom, de que era limpo, de que se pescavam peixes de tamanho fabuloso, de que os lugares eram lindos.

Observo que, a cada dia, temos que ir mais longe - e pagar mais caro (devido à raridade) - para poder pescar em águas transparentes e ainda repletas de vida. E, quem puder realizar seus sonhos, que os faça logo, pois os paraísos estão terminando!

Um grande abraço e parabéns por seu relato/artigo, que mesmo triste, me incentivou a escrever e, lá bem no fundo, despertar um fio de esperança, ao saber dos robalinhos lutando pela vida.

Abraços

Tio Luiz

 

Triste e verdadeiro. Meu primeiro peixe numa isca artificial foi nas pedras de Grumari, no costão da serrinha. Era muito peixe! ERA!

Editado por Fred Mancen
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  • 2 semanas depois...
  • Mosqueiro

@Luiz Almeida

 

Eu também não visito mais os fóruns como antes e isso fica evidente pela minha demora em responder aos amigos. Tenho débitos editoriais com o MDR: o relato do segundo permit que capturei em Cuba em 2015 e o relato do Sudão eram promessas, mas ainda não encontrei ânimo para tocar nesses assuntos, embora já estejam rascunhados, bastando apenas lapidá-los e postar.

Além de não falar de pesca, parei de praticar a pesca - consequência direta de ter conhecido os flats - nunca me recuperei completamente da ressaca pós flat e tudo ficou sem graça, exceto algumas pescarias de água doce bem específicas que ainda me enchem o coração.

Deixa eu enxugar as lágrimas e prosseguir com a conversa (tomei gosto por reclamar, se não me policio...).

Estive no sábado passado (29/06) na lagoa, em frente ao condomínio mandala e atravessei de balsa para o eco lounge, na reserva. Achei a água espetacularmente clara. Creio que seja por conta da falta de chuvas. Caso a água esteja da mesma maneira no local em que eu peguei os robalinhos, já dá um ânimo para pescar.

Mais uma coisa. Tenho ido bastante na praia da reserva e, diante do que vi, fiquei animado em fazer umas pescarias. Inicialmente, pretendo usar equipamento de bait, para sondar o local, devido a facilidade de operar esse material frente ao fly, depois, havendo êxito do bait, pretendo partir para as pescarias com mosca.

Se eu colocar isso em prática posto no MDR.

 

Abraço

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