Pesco desde menino, assim como pescava meu pai e avô, esse profissional nas lides do bacalhau e da sardinha. Para mim, sempre foi muito natural pescar e matar os peixes para comer. Os primeiros peixes que pesquei com anzol e vara, três mamarrês na Lagoa Rodrigo de freitas (eu tinha 4 anos) foram devidamente fritos e devorados por mim! Devolvíamos os pequenos, não por qualquer tipo de consciência ecológica (quando eu era garoto, a palavra ecologia era desconhecida em nosso vocabulário) mas porque não prestavam para comer. Devolvíamos de qualquer maneira; estávamos pouco ligando se o peixe iria morrer depois. Desde cedo aprendi a limpar peixes e adoro comer peixe, assim como todos em minha família lusitana; assim como na família que formei com minha esposa. Jack, criada no Acre, filha de um carioca que adorava caçar e pescar, e de uma baiana, faz filés como ninguém e é ótima cozinheira. E, assim como eu, adora cozinhar. Para muitos, é um aborrecimento. Para nós, um prazer. Aqueles que são mais próximos e que frequentam nossa casa, sabem disso muito bem. Moquecas dos robalos que eu pescava estavam sempre no cardápio! Tudo isso para demonstrar um pouco de como essa coisa de abater ou não os peixes é muito cultural; depende muito da história de cada pessoa. Após uma passagem pela pesca de competição (onde se mata tudinho) comecei a me interessar pela pesca com mosca, a ler revistas americanas e a assistir aos programas do Rubinho, que soltava todos os peixes. CARAMBA! Como aquilo era novo para mim. Aliás, um parêntese: gostem dele ou não (eu gosto) o Rubinho foi o maior responsável pela divulgação da pesca esportiva com devolução no Brasil. Via extasiado os seus programas, com ele pescando e soltando pirararas e jaús, soltando dezenas de tucunarés...Eu que nunca havia soltado um peixe, achava aquilo muito estranho. Ao mesmo tempo, a TV a cabo trazia os programas da ESPN, onde os peixes também eram soltos e, ecologia, começou a ser uma palavra mais usual. Foi um longo aprendizado e só de uns 6 anos para cá que solto a maioria dos peixes. E os solto por dois motivos: - Ecológico: por acreditar que meu ato simbólico de soltar peixes, pode motivar muitos. E a soltura de cada um, quando multiplicada por milhões (alguma dia) deixará de ser simbólica, para ser efetiva. - Pessoal: por que passei a sentir pena dos peixes. Nessa última viagem, fiquei muito feliz com cada um dos robalos que soltei; de vê-los nadar novamente...Que sensação boa! Em água salgada, continuo matando peixes de praia para comer. Mas o objetivo, não é o prazer da pesca. É ir à praia e pescar um par de horas, em busca de papa-terras ou carapebas para o jantar. Ou das enxovetas de verão. Ou seja, nessa hora meu lado lusitano fala mais alto e não tô nem aí pros pobres dos peixes. Contaditório???? Claro que sim. A contradição é da natureza humana. Até porque - como muito propriamente colocado pelo Beto - o nosso prazer em pescar nos leva a impor torturas vis aos peixes, eticamente injustificáveis! Ou seja: do ponto-de-vista do peixe, não existe pescador ético! Aliás, talvez estejam certos os nórdicos. A pesca só é entendida com o abate do peixe.