Cabeça de Aço!

[Bruno Corrêa]

Eu poderia começar este relato cheio de ornamentos, falando da linda transição das cores de outono para o princípio de inverno, e de toda a suposta poesia que deveria envolver o fim da temporada dos salmões nos rios nos arredores de Toronto. Mas é nesse “nos arredores de Toronto” que a poesia se reduz. Aqui não é o Alaska, ou alguma parte inóspita da costa oeste nas Montanhas Rochosas, ou mesmo os glamorosos pontos de pesca do Salmo Salar da costa leste. Aqui é um centro urbano, onde praticamente 1/3 da população canadense vive. Pescar sozinho por aqui num ponto famoso nem sempre é tarefa fácil. A “pesca” do salmão torna-se um verdadeiro safári, formado por inúmeros tipos de pescadores que só aparecem nos rios em meados de setembro e permanecem até novembro, enquanto os últimos “salmões zumbis” ainda se permitem serem “esnagados” (de “snagging”, que significa rebocar o animal pelo corpo propositalmente com anzol ou similar). Mesmo com toda fiscalização, até aqui existe essa raça, que não se contenta em sair do rio sem carregar um troféu pendurado, seja lá à que custo for. Porém, com as corridas de salmões chegando ao fim, e o mal cheiro de suas carcaças também não sendo mais tão incômodo, o coração de uma outra raça de pescadores se esquenta, os “Steelheaders”...

Mas o Steelheader canadense também não fez nenhum pacto com a esportividade. Ele usará o que for necessário para ter ações (minhocas, ova de salmão, isca viva, etc), mas nunca conseguirá “esnagar” um steelhead, pois esse é astuto suficiente para não deixar que isso aconteça. Não sou contra um pescador fazer uso de isca natural para ter ações, apenas me sentiria mal se assim o fizesse, uma opção pessoal, pelo menos nessa etapa da minha vida que estou apaixonado pelo Fly. E Deus sabe o quanto sou fiel! Fly fishing é o alto sacerdócio (““If fishing is like religion, then fly fishing is high church.”) . Estive na margem de um rio, à 1h30 ao leste daqui, que sabia já estar recebendo as primeiras corridas de cromados, pois até conseguia vê-los de vez em quando, pareciam miragem, torpedos prata e rosa, encostados no fundo e camuflados pela corrente, inertes. Meu amigo Elias nesse dia não queria saber de Fly, e tratou de preparar um equipo de Float Fishing, munido com uma saca de pura ova de salmão, que diz ele ter tirado de uma fêmea que morrera à margem do rio, e descera isso no longo e poderoso “dead drift” que esse material proporciona, conseguindo tirar um lindo exemplar, de seus 3,5 kgs. Nesse dia tentei minhas melhores moscas, fazendo as melhores apresentações que eu sequer imaginava ser capaz de fazer, e nada. Mais tarde, um outro pescador de float, utilizando o mesmo sistema, consegue também tirar um outro exemplar. O Fly nesse dia desmereceu minha fidelidade, e por assim foi durante um longo período do início da temporada. Pensei em desistir de tentar o Steelhead com material de Fly para essa temporada. “Vou comprar um equipo de Float” pensei. Porém, graças à uma pequena fêmea que resolveu meter a boca num Glow Bug rosa fluorescente pescado na linha sinking, minha esperança ainda não tinha morrido por completo. Depois dela, tive mais duas ações em inúmeras tentativas atrás do Steelhead, mas infelizmente em ambas o peixe levou vantagem. Numa delas o peixe estourou meu tippet 4x num salto acrobático que o fez cair sobre o leader e arrebentou tudo, era um peixe grande e gordo. Na outra, estava usando um pequeno wet fly, que escapou da boca do peixe, provavelmente pelo fato de eu ter tido medo de “fisgar” (set the hook) muito forte...Memórias que me renderam algumas noites mal dormidas (por que deixamos que um peixe tenha tamanho poder sobre nós? ).

Acreditei de fato que minhas chances estavam meio que esgotadas para essa estação. O frio ia chegar logo e os rios ainda não estavam produzindo como deveriam. O fator principal foi a ausência de chuva. Sem ela, os rios ficam muitos baixos, e os poucos exemplares que se aventuram a subir o rio ou que por lá já estivessem, fecham a boca e ficam muito ariscos, dificilmente atacando qualquer tipo de isca.

Mas a chuva veio.

November 23th. Não chamei ninguém. “Hoje a tarde vou pescar, sozinho.” Vou no Humber River, que é perto de minha casa e posso ir de ônibus. Quanto mais tempo a linha ficar na água melhor. Tudo que quero é achar uma pequena corredeira onde possa pescar sossegado, sem snaggers, sem float fishers, nada. A temperatura estava 6C, sem vento, comfortável para essa época do ano que geralmente já beira os 0C. O rio estava praticamente só para mim, em plena Toronto! A água estava bem transparente e linda. Munido com a minha sinking tip, atei ao leader um woolie bugger marrom, e atado à ele por um tipet flúor de 6x, um “Clown Egg” (Ovo Palhaço), que atei especialmente para esse dia. Após alguns arremessos, me posicionei rio acima de um bolsão d´água (pocket water). Arremessei levemente rio acima e consertei a descida com uma curva da linha para cima, pude ver o Woolie Bugger desaparecendo, mas o ovo fluorescente ainda pude acompanhar visualmente. Um vulto rosa surgiu atrás dele e errou o bote numa direção, mas numa velocidade incalculavelmente rápida voltou na outra direção e abocanhou a imitação de ova com tudo! Após alguns belos saltos e uma linda corrida rio abaixo o peixe começa a se entregar e dá mais algumas investidas, porém consegui trazê-lo. E não há nunca palavras para descrever o quão bonito esse peixe é quando sai da água!

Já me sentia realizado com essa linda “rainbow”, que foi pega às 15h30 da tarde. Não havia mais muito tempo de pesca, pois está escurecendo às 16h30 agora, mas resolvi arriscar mais alguns arremessos. Agora pescava num ponto onde a profundidade era um pouco maior. Existe sempre uma sensação de relaxamento que nos acompanha após pegar o peixe que queremos, que em minha opinião é um fator de extrema importância que aumenta, em muito, as chances de realizar novamente a mesma façanha. E para minha extrema felicidade uma segunda truta abocanhou de novo o “clown egg”! Essa era ainda levemente mais parruda, e brigou bonito rio abaixo. Como esse animal é valente! Mas consegui trazê-lo para a foto.

Hoje chuveu de novo...

Pequena “hen”

Credit River, um oásis urbano, quando não lotado de pescadores

Humber River, no dia em que peguei o peixe

The Clown Egg

Valente 1!

Valente 2!

Cabeça de Aço!

[Sérgio Augusto]

Grande Bruno, tá vendo como a felicidade existe. ok:

[Fausto]

Não é que o garoto está ficando bom de escrita! ok:

Gostei de ler e não preciso mais dizer mais nada a não ser:

Parabéns! :ok

[Mat]

Muito bom! Parabéns!

[Wlademir]

Parabéns Bruno, pela pescaria e pelo relato !

...Kensuke San fazendo escola !

Abraço

[Celio]

show de bola, Bruno

mostra pra essas danadas que pro mosqueiro carioca não tem tempo ruim

[*JR*]

Gostei do que vi!

Ainda não deu para ler o conteúdo - texto bom deve ser lido com calma, por esse motivo vou ler em casa ou quando o trabalho permitir, mas pelas fotos e comentários dá pra perceber que se trata de coisa boa.

Parabéns Bruno

[Luiz Almeida]

Grande Bruno,

Pesquei - de verdade - com você!

Belo texto, lindas fotos...E isso junto ao centro de Toronto...Sem mais comentários!

Abraços

Luiz

[Moura]

Texto muito bom, parabéns.

Até no primeiro mundo o pessoal pesca na lambada.

Abrçs.

[Mauricio Velho]

Excelente texto.

Parabéns.

[Alexandre Sinigallia]

Belissimo!

[Thiago Zanetti]

E Deus sabe o quanto sou fiel! Fly fishing é o alto sacerdócio (““If fishing is like religion, then fly fishing is high church.”) .

aleluia irmão!

[Blatt]

Bruno, ótimo relato!

Texto e fotos, tudo perfeito!

Abraço!

[Marcelo R. S.]

Grande Bruno.

É a sim mesmo a dificuldade de enganar o peixe por vários fatores,

que você modifica o ato da sua pesca, eu já percebi que a truta e o

salmão mudam o costume da alimentação quando estão subindo o rio,

na época é bom observar os peixes, é bom sempre observar a temperatura dos

rios e a subida dos peixes. São pequenos detalhes que vai ajudar muito.

Parabéns pela pescaria.

Se não tentar não pesca.

Grande abraço do amigo pescador. :ok ok:

[Vasconcellos]

Belo relato Bruno! Bem escrito, sem se delongar muito.

Quanto maior a dificuldade, maior o prazer.

Parabéns!

[Rusllon]

Muito bom....

Coisa boa poder pescar pertinho de casa!

[Diogo Azevedo]

Excelente relato e fotos Bruno !

Parabéns ok:

Abraço,

[Bruno Corrêa]

Valeu amigos! Fico feliz que tenham gostado do relato, pois foi escrito com muita paixão! Um abraço à todos!

[Sérgio]

Bruno apesar de você já ter me relatado sua aventura e me mostrado as fotos no dia seguinta a sua façanha no Skype, fiquei muito satisfeito em ler o seu texto, você está pronto para escrever um livro daqueles que se começa a ler e não se consegue parar até se chegar na última página. Parabéns pela façanha e pelo relato !!!